História Em 1979, uma tragédia mudou a face da vela oceânica Veleiros que são verdadeiras montras da mais moderna engenharia, sistemas de segurança, navegação e comunicações que permitem acompanhar os navios em tempo real, tripulantes preparados e qualificados para enfrentarem os desafios do mar. Navegar pelos oceanos do mundo continua a ser uma aventura, mas a vela oceânica é hoje um desporto altamente profissionalizado e que obedece a regras muito rigorosas. Não era assim em 1979. A tragédia que balizou a evolução deste desporto aconteceu entre os dias 13 e 14 de Agosto de 1979. Mais de 300 iates participavam na Fastnet, a regata que liga a Inglaterra à Irlanda e que, na altura, era a prova decisiva das cinco que compunham a Admiral’s Cup, o campeonato do mundo da especialidade. Estavam previstos ventos à volta dos 50 km/h, apesar de os meteorologistas avisarem que as rajadas poderiam ser um pouco mais intensas. E isso aconteceu. Mas numa escala tal que o balanço final foi pesadíssimo: 15 mortos, 23 navios perdidos no mar. Quando as autoridades começaram, finalmente, a ter uma noção dos efeitos da tempestade, já muito estava perdido. Ondas gigantescas e ventos na fronteira do que poderia ser considerado um furacão (perto dos 120 km/h) tinham semeado o caos na frota. Sem aviso prévio, muitos competidores persistiram na rota em vez de procurarem um porto seguro. Foi um dos muitos erros cometidos nessa jornada trágica. Nem mesmo o gigantismo da operação de socorro lançada para socorrer as tripulações – a maior no Reino Unido em tempo de paz – conseguiu disfarçar o facto de que se estava perante a maior tragédia na história da vela oceânica. Mais de duas dezenas de iates foram ao fundo, noutros houve tripulantes atirados ao mar pela fúria das vagas e pela má concepção dos arneses de segurança. O próprio primeiro-ministro britânico na altura, Edward Heath, esteve desaparecido durante algumas horas, até que apareceu numa praia, sem ferimentos. Vasos de guerra britânicos, irlandeses e holandeses. Traineiras francesas. Navios de socorros a náufragos e rebocadores da costa Leste do Reino Unido. Petroleiros e cargueiros de bandeiras diversas que se encontravam na área. Aviões e helicópteros da RAF. Parecia a reedição do desembarque na Normandia, mas o objectivo agora era outro: os meios mobilizados para o salvamento resgataram um total de 125 marinheiros das águas violentas do Atlântico Norte. No meio do caos, alguns iates concluíram mesmo as 600 milhas náuticas do percurso e o vencedor foi o “Tenacious”, cujo dono esteve ao leme durante a tortuosa jornada. Chamava-se Ted Turner e no ano seguinte fundou a CNN, iniciando o percurso que lhe permitiria vir a tornar-se um dos mais importantes magnatas do mundo no campo dos “media”. A regata manteve-se mas, no rescaldo da catástrofe, um sem-número de medidas de segurança e soluções de engenharia tornaram-se obrigatórias nas competições. Novos arneses para os tripulantes, mais lastro nos navios, obrigatoriedade de ter comunicações rádio a bordo, exigência de qualificações a todos os tripulantes. Começava a era moderna da vela oceânica. FONTE: PÚBLICO
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