Moçambique
Moçambique | Novas perspectivas para o carvão de Moatize
O consórcio formado pelas empresas Vale Moçambique, Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e a multinacional Mitsui, inaugurou o Corredor Logístico de Nacala (CLN), um projecto estruturante e determinante para o sucesso da exploração de carvão mineral extraído na região carbonífera de Moatize, na província central de Tete.
O CLN, um empreendimento orçado em 4,4 biliões de dólares, no qual a Vale é o maior accionista, inclui uma linha férrea com uma extensão de 912 quilómetros, dos quais cerca de 200 em território malawiano e um porto de águas profundas.
A cerimónia inauguração teve lugar no distrito de Nacala-à-Velha e contou com a presença do estadista moçambicano, Filipe Nyusi.
Falando durante o evento, o ministro brasileiro dos negócios estrangeiros, Aloysio Ferreira, disse que durante o encontro mantido com o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, ficou a saber que na língua local a palavra Nacala significa “vir para ficar”.
Por isso, disse Ferreira num tom convicto, “a Vale chegou e veio para ficar (em Moçambique). É a presença brasileira, de uma grande empresa brasileira nesta parte do território deste país irmão com uma obra importante para o Malawi e para Moçambique”.
O ministro destacou a importância do corredor para o aumento da produtividade da indústria de carvão, bem como para o desenvolvimento económico, redução dos custos de importação e para a emergência de outros investimentos indirectos.
Refira-se que a redução dos custos de produção e expedição do carvão era um dos maiores desafios da Vale, desde a fase de implementação do projecto, que vinha operando com enormes prejuízos desde o início das suas operações em Moçambique
Segundo a Vale, os prejuízos começavam na mina de Moatize a partir do momento em que os comboios começavam a rolar ao longo da Linha de Sena em direcção ao porto da Beira, na província central de Sofala.
“O Corredor de Nacala vai permitir reduzir substancialmente os custos de produção e de transporte de carvão devido aos elevados volumes envolvidos. Isso será determinante para o sucesso da indústria do carvão em Moatize”, disse fonte da Vale, durante um contacto informal mantido com a imprensa na noite de quinta-feira.
A fonte explicou que o corredor começou a operar no início do ano passado, tendo atingido 6,5 milhões de toneladas e para o presente ano projecta exportar cerca de 11 milhões de toneladas para atingir o pico de 18 milhões de toneladas dentro dos próximos dois anos. O Corredor também foi projectado para o transporte adicional de quatro milhões de toneladas de carga diversa e passageiros.
“Uma vez que a Vale não tem nenhum controlo sobre os preços do carvão no mercado mundial, que flutuam em função do binómio demanda e oferta, o aumento de produção e dos volumes de exportação vão reduzir os custos operacionais e ajudar a empresa a tornar-se mais competitiva e colocá-la numa situação rentável”, acrescentou.
Aliás, desde o início da operação em Moçambique, a Vale sempre se queixou dos elevados custos operacionais que estavam a inviabilizar o seu projecto em Moçambique, e que levaram a empresa a acumular um prejuízo na ordem de várias dezenas de milhões de dólares.
“Ou seja, havia a necessidade de alinhar a sua estrutura de custos em conformidade com o mercado internacional”, disse a fonte.
Durante os primeiros anos a Vale usou para as exportações de carvão a linha férrea de Sena.
Infelizmente, e para a sua frustração, apesar do investimento realizado na reabilitação daquela infra-estrutura, a mesma nunca chegou a atingir a capacidade instalada de seis milhões de toneladas de carvão por ano.
“Nunca chegou a alcançar o volume para a qual foi projectada, tendo atingido no máximo pouco mais de quatro milhões de toneladas”, disse a fonte, para de seguida acrescentar que “Sena é uma linha com muitas limitações estruturais”.
Além disso, o carregamento de navios era feito com muitas dificuldades e, em alguns casos, com o recurso ao transbordo para navios de maior calado.
Contudo, as operações de transbordo deixam de ser necessárias em Nacala-à-Velha, um porto de águas profundas e sem limite de calado.
O testemunho disso é o facto de o maior carregamento realizado pela Vale ter sido um navio de 187 mil toneladas, disse em declarações à imprensa Hector Cumbana, analista operacional da Vale.
“O porto de Nacala-à-Velha não tem limitantes em ternos de capacidade de carga. Aliás, é considerado actualmente como o maior porto de águas profundas ao longo da costa oriental de África”, referiu.
O porto possui uma capacidade para o carregamento de navios de cinco mil toneladas de carvão por hora.
Segundo Cumbana, o transporte de carvão ao longo da linha é feito através de uma composição ferroviária composta por 120 vagões e com um comprimento de cerca de 1.650 metros. Cada composição transporta uma média de 7.560 toneladas de carvão.
Desde o pátio de armazenagem no terminal do porto de Nacala, o carvão mineral é transportado ao longo de um tapete rolante com uma extensão de 13 quilómetros até ao navio. O porto tem uma capacidade para o armazenamento de cerca de um milhão de toneladas.
O porto de Nacala é uma infra-estrutura auto-sustentável, ou seja pouco dependente do ambiente externo, pois tem a capacidade de produzir a sua própria energia e água.
Para o efeito possui um grupo de geradores com uma capacidade para a produção de seis Megawatts de energia eléctrica e uma central de dessalinização, bem como um sistema de recuperação e tratamento de águas residuais.
Actualmente, o porto tem vindo a receber uma média de nove a 10 navios por mês. Os principais mercados do carvão são os países da Europa e Ásia.
O Corredor Logístico de Nacala acolhe no total e de forma directa 2.053 trabalhadores, maioritariamente jovens sem incluir mais de 1.600 que se encontram ao serviço de empresas terciárias.
Segundo a gerente de recursos humanos e comunicação, Inês Correia, apenas 8,5 por cento são estrangeiros. As mulheres representam cerca de 12 por cento do total de mão-de-obra.
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