Cabo Verde

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Nova concessão das ligações marítimas ultrapassa expectativas

A nova concessão do serviço público de transporte marítimo de passageiros e carga entre as ilhas de Cabo Verde, liderada pela portuguesa Transinsular, permitiu transportar 140.000 pessoas nos primeiros três meses de operação, acima das expectativas iniciais.

Os números foram avançados em entrevista à agência Lusa pelo administrador-executivo da CV Interilhas, Paulo Lopes, empresa que desde 16 de agosto último assegura as ligações marítimas no país, no âmbito da concessão atribuída pelo Estado, válida por 20 anos.

"O balanço que nós fazemos destes primeiros três meses é muito positivo e bastante acima das expectativas que foram projetadas inicialmente. As nossas projeções apontam agora para perto de 200.000 passageiros transportados no fim do ano [desde agosto]", afirmou.

Em três meses de operação, os cinco navios da frota da CV Interilhas transportaram 140.000 passageiros e 11.000 viaturas e 6.000 toneladas de carga geral, distribuídas por mais de 1.000 ligações.

"O objetivo são cinco navios, se for necessário podemos afretar mais um", admitiu o responsável.

Cerca de 70% deste tráfego está concentrado nas ligações, várias vezes ao dia, entre as ilhas vizinhas de Santo Antão e São Vicente.

"São números bastante bons e acima daquilo que estava projetado. Além disso, há ainda a acrescer a regularidade e pontualidade, que é um dos maiores valores deste projeto", apontou Paulo Lopes.

A nova sociedade que gere a concessão do serviço público, conforme concurso lançado no final de 2018 pelo Governo cabo-verdiano, é liderada pela portuguesa Transinsular, que detém uma quota de 51% da CV Interilhas. Os restantes 49% são detidos por armadores cabo-verdianos, que também fornecem navios para garantir as ligações.

Dos cinco navios, dois têm estado em doca. Um destes para uma manutenção programada, com previsão de regresso ao serviço ainda esta semana, enquanto o outro está avariado, situação que obrigou a empresa a afretar um navio em Espanha.

Um outro navio, construído num estaleiro da Coreia do Sul no âmbito do plano de substituição dos mais antigos da frota, deverá ser entregue ainda este mês, para entrar ao serviço no início de 2020. Terá capacidade para mais de 450 passageiros e 50 viaturas ligeiras, especificamente para fazer a ligação entre Santo Antão e São Vicente.

O "Liberdi", um ferryboat com mais de 45 metros de comprimento, que já operava em Cabo Verde, é um dos navios que pertence agora à frota afretada pela CV Interilhas.

Ao leme está Emanuel Pires Lima, de 58 anos, comandante com 36 anos de experiência no mar de Cabo Verde.

"É um mar às vezes alto, o navio balança muito, outras vezes é muito bom de viajar", contou, à conversa com a Lusa, numa das várias viagens de quatro horas que faz por dia, ligando as ilhas de Santiago, Fogo e Brava.

"O problema é quando o mar está alto, porque o navio balança muito. Quanto ao resto, é tranquilo", aponta, assumindo que os passageiros são mesmo a carga mais complicada que transporta.

"Se veem alguma coisa no mar, correm todos para o mesmo lado para ver. O navio pode adornar", explica.

Conta que já fez todas as rotas entre as ilhas do mar, mesmo no tempo em que os navios eram de madeira, como o "Vitorioso", há mais de 30 anos.

"Gosto de andar no mar. É uma boa profissão", confessa.

Já sobre os enjoos, de que quase todos se queixam, diz que pouco pode fazer: "É uma questão de experiência".

A CV Interilhas conta atualmente com 125 trabalhadores, dos quais 89 são tripulantes. Segundo Paulo Lopes, quase metade -- 40 tripulantes -- concluíram esta semana uma formação: "Estamos a apostar fortemente para os colocar ao melhor que temos a nível internacional".

A empresa concessionária, liderada pela Transinsular (grupo português ETE) previa um investimento inicial de meio milhão de euros e o afretamento dos vários navios necessários, entre armadores que integram o capital social da concessionária e outros.