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Por que é que umas baleias são maiores do que outras?
Por que é que a baleia-azul é maior do que o cachalote? Uma equipa internacional de cientistas explorou esta questão durante uma década. Um artigo científico publicado na revista Science refere que tudo depende da disponibilidade das presas que as baleias de barbas (como a baleia-azul) e as baleias com dentes (como o cachalote) comem. Desta forma, as baleias de barbas arranjaram uma estratégia alimentar que faz com que tenham dos maiores corpos do planeta. Mesmo assim, o acesso (por vezes) limitado às presas impediu que fossem ainda maiores.
“As baleias-azuis e os cachalotes estão entre os maiores animais da evolução. Elas rivalizam e, nalguns casos, ultrapassam os dinossauros mais pesados que existiram. É espectacular! Mas por que é que não são ainda maiores?”, questiona Nicholas Pyenson (curador do Museu Nacional de História Natural Smithsonian, nos EUA, para a área dos fósseis de mamíferos marinhos e um dos líderes do trabalho). Para si, este é um mistério que os biólogos têm tentado decifrar há um século: afinal, o que limita o tamanho dos animais? Estudar isto nas baleias tem sido complicado porque elas passam grande parte do seu tempo debaixo de água. “As ideias sobre o que influencia e limita o seu tamanho têm sido maioritariamente especulativas”, salienta-se num comunicado do museu.
Para conseguirem respostas concretas, uma equipa com mais de duas dezenas de cientistas localizou e sinalizou baleias de barbas (da subordem Mysticeti) e baleias com dentes (da subordem Odontoceti). As suas actividades subaquáticas foram monitorizadas com um sensor que se fixou nos animais através de ventosas. A partir de sonares e de presas encontradas no estômago das baleias no passado, também se estimou o tamanho das presas das várias baleias. Ao todo, desde a Gronelândia à Antárctida, acompanharam-se mais de dez mil “refeições” de baleias de barbas e baleias com dentes e calcularam-se os custos energéticos e os benefícios para esses animais.
Percebeu-se assim que as baleias conseguem satisfazer os gastos energéticos exigidos para os seus corpos robustos porque desenvolveram mecanismos de procura de alimento, como a ecolocalização e a alimentação por filtração. Contudo, há diferenças entre as baleias com dentes e as baleias de barbas.
As baleias com dentes – como a baleia-jubarte, que pode atingir 16 metros de comprimento – usam a ecolocalização para procurar comida e podem ir até às profundezas do oceano para encontrar lulas. Mas, nesta procura gastam demasiada energia. Nalguns casos, até as maiores baleias com dentes não comem alimentos suficientes durante o mergulho para a energia que gastam durante essa caçada. “A falta de lulas gigantes parece restringir a capacidade de as baleias com dentes conseguirem mais energia”, assinala ao PÚBLICO Jeremy Goldbogen, biólogo marinho da Universidade de Stanford e também líder da investigação.
Já as baleias de barbas, como a baleia-comum (que alcança mais de 25 metros de comprimento) e a baleia-azul (o maior o animal vivo do planeta e que pode atingir 30 metros de comprimento), alimenta-se de pequenas presas, nomeadamente de krill (pequenos crustáceos). De acordo com os investigadores, o krill é mais abundante, mais acessível do que as lulas e pode ser encontrado em cardumes grandes e densos. Desta forma, as baleias com dentes consomem mais calorias do que gastam durante a alimentação.
Nova espécie de baleia
Mesmo assim, essa acessibilidade é mais frequente nos meses de Verão nas latitudes mais elevadas, o que faz com que este recurso seja mais limitado noutras alturas do ano. “Por estas razões, a sazonalidade dos recursos alimentares, como o krill, pode ser um factor que tenha limitado a evolução do tamanho máximo nas baleias de barbas”, refere Jeremy Goldbogen. “Infelizmente, a sazonalidade e dinâmicas dos recursos são pouco compreendidas, especialmente a forma como se relacionam com a fenologia (estudo dos processos biológicos periódicos).”
Num comentário sobre o trabalho com o título “A biologia do grande”, Terrie Williams (da Universidade da Califórnia em Santa Cruz, nos EUA) resume assim esta investigação: “Por que é que as baleias não crescem ainda mais? Tal como o novo estudo sugere, é em parte devido às limitações no espaço e no tempo de presas de grande qualidade.”
Os autores do trabalho indicam ainda que podem existir outros factores que limitam o tamanho das baleias, tal como o ritmo cardíaco. Recentemente, a mesma equipa conseguiu pela primeira vez medir o ritmo cardíaco da baleia-azul. O ritmo mais alto que obtiveram foi de 37 batimentos por minuto, depois do mamífero marinho ter regressado à superfície para respirar ar após o mergulho de procura de comida. Assinalaram ainda que, quanto maior é o animal, menor é o seu ritmo cardíaco. O mamífero mais pequeno, os musaranhos, tem um ritmo cardíaco superior a mil batimentos por minuto.
Por agora, como sabem melhor quais as necessidades alimentares das baleias, os investigadores destacam que os dados obtidos poderão ajudar na conservação destes animais, nomeadamente das baleias que comem presas que também podem ser pescadas por humanos. Além disso, se as alterações climáticas afectarem a oferta de peixe, isso terá um impacto na procura de alimentos das baleias e poderá até influenciar a sua saúde. Em futuros trabalhos, a equipa quer entender melhor como é que as baleias de barbas encontram os seus alimentos.
Na última edição da revista PLOS ONE, também foi anunciada a descoberta de uma espécie de baleia já extinta, a Aegicetus gehennae. A identificação desta espécie foi feita a partir de um esqueleto quase completo e um outro parcialmente completo encontrados em 2007 no Egipto. Devido às características dos esqueletos, essa baleia que existiu há 35 milhões de anos já deveria ser completamente aquática – o antepassado das baleias era um animal terrestre que passou da terra para o mar há cerca de 50 milhões de anos – e deveria nadar através da ondulação da parte posterior do seu corpo e da cauda, como fazem os crocodilos.
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