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As vulnerabilidades do transporte marítimo

A exposição a vulnerabilidades devido a fatores externos ao mundo do transporte marítimo, é em alguns casos bastante grande. Ao longo dos tempos a globalização e a digitalização têm trazido mais e melhor informação, mas ao mesmo tempo continuamos a ter problemas do mundo moderno a afetar o transporte de mercadorias.

Ciberataques, acidentes com as cargas e navios, guerras comerciais entre países e pirataria continuam presentes na cadeia de transporte global. Nem sempre é fácil detetar esses problemas ou conseguir adiantar soluções antes dos mesmos acontecerem. Recentemente uma pandemia vulnerabilizou uma parte do globo, responsável por grande parte do comércio marítimo global. Será que estamos preparados para não ter as cargas a tempo e, em alguns casos, em condições?

PANDEMIA – Coronavírus
O coronavírus parece ter sido uma das últimas cartas no que respeita a vulnerabilidades. A junção do ano novo chinês, com o alastramento desta pandemia, trouxe uma nova visão da fragilidade da globalização. Os aeroportos junto das zonas mais atingidas sofreram quebras de cerca 80%, e o sistema de metropolitano tem menos de metade dos passageiros do que seria expectável numa segunda feira normal, depois das festividades do novo ano chinês. Os portos e muitos outros serviços diretamente ligados com a atividade logística ficaram quase parados. Uma paragem mais acentuada na China pode ter um impacto forte no mercado dos fretes. As cargas estão irremediavelmente impossibilitadas de serem entregues a tempo e horas, encontrando-se algumas acumuladas em portos, à espera de seguirem para o seu destino, devido a bloqueios temporários impostos pelas autoridades, quer devido à falta de pessoal para operar os equipamentos, quer devido a restrições de saúde pública. Medidas de quarentena estão a ser aplicadas para navios que provenham das zonas afetadas, havendo igualmente um grande foco nas medidas de controlo das tripulações.

Muitas fábricas ficaram também elas fechadas, quer por falta de matéria-prima, quer por falta de mão-de-obra disponível. Sete dos dez maiores portos chineses têm na exportação dos produtos locais manufaturados o seu maior negócio. A exportação de bens foi igualmente atingida. A Hyundai Motors suspendeu a produção na Coreia do Sul, a sua maior base de produção, devido à falta de peças. O tráfego intra-asiático, dos maiores a nível mundial, foi o primeiro a sentir o impacto do vírus corona, seguindo-se depois os tráfegos internacionais nas rotas para a América do Norte e para a Europa.

De acordo com a Sea Intelligence, e no esperado turbulento regresso ao trabalho depois da paragem do ano novo chinês, estimam-se perdas semanais na ordem dos 350 milhões de dólares para os operadores e armadores, baseando-se em quebras de 350 mil TEU semanalmente, a cerca de mil dólares/TEU. Com o aparecimento do vírus registaram-se cerca de 21 cancelamentos de escalas (blank sailings) nas rotas transpacífico, retirando cerca de 198.500 TEU da equação. Tudo isto somado aos 61 cancelamentos já registados devido ao novo ano chinês, chegando assim a mais de 80 escalas canceladas. Nas rotas para a Europa, foram registados dez cancelamentos devido à pandemia, retirando cerca de 151.500 TEU do mercado, aumentando para cerca de 54, os cancelamentos nesta época para os mercados europeus e do mediterrâneo.

A falta de mão-de-obra nos portos e armazéns levou a que alguns navios seguissem para a Coreia do Sul para serem descarregados. O porto de Busan registou um aumento da ocupação dos 70% para perto de 80%.

De acordo com a consultora Alphaliner, o novo ano chinês aliado às medidas de prevenção do vírus corona devem trazer reduções para os portos chineses – incluindo o de Hong Kong – na ordem dos seis milhões de TEU no primeiro trimestre de 2020, levando a uma quebra anual esperada de 0,7%. A movimentação de contentores nos portos chineses foi de 261.25 milhões de TEU no último ano, registando um aumento de 4% em relação ao ano anterior. Apenas quando forem publicados os resultados do primeiro trimestre podemos ter o real impacto do problema, contudo, de acordo com informação semanal recolhida, o número de escalas nos portos chineses diminuiu cerca de 20%, desde 20 de janeiro.

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