Angola

Angola pode ser a 4.ª maior economia de África

Angola poderá tornar-se, até 2050, a quarta maior economia de África, conforme projecções do Instituto de Estudos e Segurança (ISS), sediado em Pretória, África do Sul.

Segundo um relatório desse órgão, o país terá, até ao período em causa, um PIB nominal de USD 994 mil milhões, atrás da Nigéria, da África do Sul e Egipto.

O estudo aponta que Angola deve ultrapassar Marrocos e a Argélia, caso supere desafios ligados à boa governação, acesso a infra-estruturas de qualidade, educação e cuidados primários de saúde.

Com o título "cenários do futuro de Angola 2050 para além do petróleo", o relatório de 46 páginas apresenta cinco cenários sectoriais e prevê que a economia angolana venha crescer sete vezes mais do que os actuais 140 mil milhões de dólares.

Elaborado em Março último, sem ter em conta as repercussões da Covid-19 na economia, o relatório avança que Angola é, actualmente, a quarta maior economia de rendimento médio-baixo em África, mas pode, até 2030, superar Marrocos e a Argélia, em 2040.

Segundo o documento, que faz uma avaliação integrada de como os vários sectores (economia, infra-estruturas, energia, demografia, agricultura e saúde) podem vir a desenvolver-se até 2050, essa trajectória de crescimento começa nesta década, com taxa média anual de 4,6 por cento.

Ressalta que Angola é a sexta maior economia de África e a segunda maior da SADC, mas o peso da economia, com resultados negativos desde 2016, obscurece a sua vulnerabilidade ao volátil mercado global do petróleo.

Isso, refere o estudo, tem causado prejuízos à sua economia, desde o advento da produção de petróleo de xisto em grande escala nos Estados Unidos.

No âmbito da trajectória actual, prevê-se que o PIB crescerá a uma taxa média considerável de 4,6% ao ano, entre 2020 e 2030, ano em que a economia de Angola poderá crescer para 238 mil milhões de dólares e deverá ultrapassar Marrocos, no final da década de 2020.

Com esse passo, deverá tornar-se a terceira maior economia africana de rendimento médio-baixo.

Por volta de 2040, prevê-se que Angola venha a ultrapassar a Argélia em dimensão económica.

Até 2050, a economia de Angola deverá aumentar para mais de 994 mil milhões de dólares – um aumento de quase sete vezes, quando comparado com o ano de 2020.

O estudo alerta que as previsões económicas de curto-prazo são sombrias, tendo em conta as projecções de instituições como o FMI e Economist Intelligence Unit.

Essas instituições projectam, por exemplo, mais um ano de recessão, embora espere que se sigam três anos de crescimento, com base no pressuposto de que a reforma do sector petrolífero venha a atrair investimentos no campo da exploração petrolífera.

Em Outubro de 2019, o Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgou as suas projecções de crescimento do PIB para Angola: –0,3% em 2019; 1,2% em 2020; e 3,8% em 2024.

Outro grande desafio apontado pelo relatório, para a recuperação económica a longo-prazo, está relacionado com a gestão do elevado endividamento público, com rácio da dívida face ao PIB estar muito acima de 91%, e metade desta dívida é devida à China e garantida pelo petróleo.

Apesar dos inúmeros desafios a superar apontados pelo estudo, as perspectivas económicas a médio e longo prazos são optimistas, reflectindo sobre o rápido crescimento futuro da população e uma maior taxa de urbanização, para além de uma já grande população urbana.

Esses fenómenos tendem a gerar um aumento da produção económica e que estão intimamente ligados ao crescimento económico.

Com base nas taxas de crescimento actual da população 5,6%, que vão manter-se altas nas próximas duas décadas, segundo as projecções, Angola quase triplicará a sua população, passando dos actuais 32 milhões de habitantes para 80 milhões.

A população angolana está entre as cinco populações mais jovens e de crescimento mais rápido do mundo.

Na trajectória actual, as elevadas taxas de fertilidade sustentadas continuarão a fomentar o rápido crescimento da população, o que desacelera o potencial crescimento do rendimento.

Embora seja previsível que a taxa total de fertilidade de Angola diminua lentamente para cerca de cinco, até 2030, e 3,6 até 2050, permanecerá entre as cinco primeiras no Mundo.

Ademais, os especialistas responsáveis pelo estudo alertam que a forte dependência de Angola às exportações de petróleo bruto não é bom augúrio para o futuro.

Os 1,57 milhões de barris de petróleo por dia que Angola exportou em 2017 foram responsáveis por mais de 95% das suas receitas de exportação, enquanto os diamantes contribuíram com a maior parte dos restantes 5%.

O estudo destaca que Angola, apesar de décadas de crescimento registado nos últimos anos com o "boom do preço do petróleo", uma educação de qualidade e um bom nível de vida, permanece fora do alcance da maioria dos angolanos e a crise de 2014 exacerbou os já elevados níveis de pobreza extrema, particularmente nas áreas rurais.

O relatório, que se apoia em dados da Estratégia de Longo-Prazo 2025, que compreende planos quinquenais sucessivos, chama a atenção para a necessidade de o Governo redireccionar parte das suas despesas militares para infra-estruturas, sobretudo na educação e saúde.

Sublinha que as elevadas taxas de desnutrição infantil e de mortalidade materna em Angola só podem ser melhoradas através da reabilitação e construção de infra-estruturas hídricas e de saneamento.

O relatório destaca que, em comparação com outros países de rendimento médio-baixo em África, Angola gasta mais de três vezes mais do seu PIB com os militares e uma parte significativamente menor em infra-estruturas essenciais (por exemplo, estradas e saneamento).

Para que Angola não corra o risco de viver novas contracções económicas, quando as reservas se esgotarem, possivelmente já em 2030, o estudo destaca a necessidade de o Governo dar seguimento ao seu compromisso de diversificar a economia.

Sugere que a almejada diversificação da economia deve ser assegurada com o fornecimento electricidade a mais angolanos e alinhar-se com a agenda global de combate às alterações climáticas, enquanto o Ministério da Energia e Águas deve investir no vasto potencial de energias renováveis de Angola.

No domínio da produção agrícola, o relatório lembra que Angola, com mais de 35 milhões de hectares de terras aráveis, já foi auto-suficiente em todas as culturas, excepto o trigo, e foi também o quarto maior exportador de café do mundo.

Todavia, refere, o sector em Angola tem agora um desempenho muito abaixo do seu potencial, e a insegurança alimentar está entre os problemas mais prementes do país.

Actualmente, Angola possui cinco milhões de hectares em produção.

Para tornar Angola mais segura e melhorar de forma sustentável os meios de subsistência rurais, o estudo recomenda que os Ministérios de Agricultura e Florestas, Construção e Obras Públicas e de Energia e Águas devem dar prioridade à expansão das terras cultivadas sob irrigação.

Segundo o documento, as terras equipadas para a irrigação dobram, no início de 2030, para 176 000 hectares, dobram novamente até 2040 e atingem 450 000 hectares até meados do século, ou seja, 12% de todas as terras irrigáveis.

As terras realmente irrigadas aumentam de 11 700 hectares para 18 600 hectares até 2030, para 48 000 hectares até 2040 e para 60 000 hectares até 2050.

A agricultura é vital para a economia e a maioria dos angolanos depende da agricultura para obter alimentos ou rendimentos. Neste cenário, Angola tem mais do que cinco milhões de hectares das suas terras de cultivo sob irrigação.

Mais concretamente, a área de terra equipada para irrigação é reforçada, da actual estimativa de 88 800 hectares (apenas 0,15% de toda a terra agrícola), para 240 000 hectares até 2035, e 450 000 hectares até meados do século.

De acordo com as projecções, os investimentos na agricultura serão incrementados, passando da estimativa actual de USD 834 milhões, para USD 1,4 mil milhões até 2035, e para USD 2,2 mil milhões até 2050, face à previsão da trajectória actual, de USD 1,9 mil milhão para 2050.

A produção de culturas poderá aumentar de uma estimativa de 18 milhões de toneladas métricas em 2019 para aproximadamente 23 milhões de toneladas métricas até 2035, e para 33 milhões de toneladas métricas até meados do século – 3 milhões de toneladas métricas acima da previsão da Trajectória Actual para 2050.

Realça que o potencial hidroeléctrico de Angola está entre os mais elevados de África, com a produção de energia hídrica a conhecer um incremento substancial na “Trajectória Actual”, aumentando sete vezes entre 2020 e 2050.

Neste cenário, aumenta de 5,6 MBOE (milhões de barris de petróleo) em 2020, para 75 MBOE em 2050.

O estudo sublinha que Angola quase que triplicou a sua produção hidroeléctrica durante o período de 2005-2015 (de 1.4 MBOE para 3.2 MBOE).

Angola tem um potencial eólico, solar e geotérmico significativo. Na Trajectória Actual, a energia proveniente de outras energias renováveis aumenta de 1.1 MBOE em 2020 para 463 MBOE em 2050. Neste cenário, sobe para 810 MBOE até 2050.

Isso equivale aproximadamente à estimativa feita pelo modelo de IFs da outra capacidade renovável da China em 2019.

Neste cenário, Angola seria o 12º maior produtor de ‘outras energias renováveis’ do mundo em 2050; na Trajectória Actual, Angola é o 19º maior produtor até 2050.

No domínio dos transportes e vias de comunicação, o relatório reconhece que Angola tem investido fortemente na reabilitação das suas estradas desde o fim da guerra civil, mas a má manutenção das estradas parece continuar a ser um desafio, embora haja poucos dados sobre as infra-estruturas de transporte do país.

Daí que, em termos globais, em 2018 Angola tenha sido classificado em 159.º lugar, na lista de 167 países, no Índice de Desempenho Logístico do Banco Mundial, em parte devido às más condições das infra-estruturas relacionadas com o comércio e os transportes.

A elaboração do referido relatório contou com as contribuições dos professores Alves da Rocha, Francisco Miguel Paulo e Carlos Vaz, todos do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, Gen. Brig. (Reserva) Manuel Correia Barros, Sérgio Calundungo, Celso Dala e Eric Klisman (Escola Nacional de Administração e Políticas Públicas).

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