Biblos
SANTO ANTÃO, CABO VERDE
Simão Salvador, o intrépido marinheiro de Penha de França
Em obediência ao natural impulso das gentes das ilhas e às circunstâncias da vida, Simão de nh’ Ana Pedrinho de nhô Manel Juliano emigrou para o Brasil. Um ano após a sua chegada às Terras de Santa Cruz, Simão foi feito marinheiro a bordo do vapor “Pernambucana” que, no trágico dia 8 de Outubro de 1853, numa das suas viagens do Rio Grande do Sul para o Rio de Janeiro, naufragou próximo do Cabo de Santa Marta.
Toda a esperança de salvação tinha-se perdido. O quadro que se oferecia a bordo era desolador. No vapor não havia os socorros precisos e de terra não podiam ser enviados. As ondas encapeladas envolviam o navio e a cada nova golfada do mar mais uma vida era perdida. As dezenas de passageiros que se agarravam uns aos outros sobre a coberta imploravam a salvação, mas inutilmente, porque a morte vinha rápida surpreendê-los, sem que os auxílios de terra pudessem ser prestados. Logo que o navio encalhara, um homem mais arrojado que todos os outros conseguiu salvar-se a nado. Esse homem era o nosso Simão Juliano.
Desprezando a vida que havia já salvo, Simão lançou-se outra vez à água e nadou para o navio. O espaço que tinha a percorrer media talvez 100 metros e o intrépido marinheiro venceu esta distância à força de coragem e de energia e voltou à praia salvando um dos passageiros. Depois desta vítima salvou outra, outra e outra. Dez vezes se lançou ao mar e dez vezes conseguiu voltar à praia trazendo sempre agarrado um dos pobres náufragos. As forças estavam exaustas. O corpo cedeu à fadiga e o valente marinheiro, prostrado e abatido, caiu por terra.
A bordo do navio ainda restavam alguns desgraçados para quem a última esperança se perdia de todo. Na praia, havia uma pobre mulher que chorava, lembrando-se de dois filhos que ainda estavam a bordo.E la dirigiu-se a Simão com os olhos arrasados de lágrimas e a voz embargada pelos soluços e apontou-lhe o navio. O valente atleta que lutara já duas vezes com o oceano enfurecido, lembra-se dos seus e de sua mãe, levantou-se e investiu com as ondas. Todos os espectadores estremeceram percebendo que a luta ia ser desesperada, mas momentos depois voltava trazendo mais um náufrago.
A mulher tinha outro filho que era preciso salvar e Simão lá voltou ao navio e pouco depois aparecia na praia entregando à mãe a segunda criança.
Já nada parecia restar a bordo. Os outros tripulantes e passageiros tinham sido devorados pelo oceano revolto. O navio, meio despedaçado, soçobrava sempre e estava prestes a afundar-se. De súbito, ouve-se um grito aflitivo. Era dado por um cego que ainda existia a bordo e de quem todos se haviam esquecido.
para ler na íntegra aqui
Simão olhou ainda outra vez para o mar, escutou os gritos de angústia que se soltavam em torno dele e precipitou-se no meio das ondas. Simão voltou são e salvo trazendo consigo o pobre cego. Ainda os dois não tinham chegado à praia e já o navio desaparecera de todo. Perto de cem pessoas haviam perecido nessa imensa catástrofe e as treze que tinham escapado deviam a existência ao nosso herói!
“Bonito e triste!” – diria a Mãe Xanda, ou “Bom pa filme!”, numa expressão mais do meu tempo de menino.
Simão Manuel Alves Juliano faleceu em Ponta do Sol, ilha de Santo Antão, em 1856, com apenas 32 anos.
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