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Os cientistas encontraram ondas de calor no fundo dos oceanos - e isso pode ser terrível
Em 2013, a Blob fez manchetes quando foi identificada como uma devastadora onda de calor no nordeste do Pacífico. À medida que as águas ao largo da costa dos Estados Unidos aqueceram, os ecossistemas foram virados do avesso, os recifes de coral foram branqueados e mais de um milhão de aves apareceram mortas em toda a América do Norte.
Recentemente, uma nova pesquisa sugere que pode ter sido apenas a ponta do iceberg — numa bela ironia. Não só os cientistas da NOAA, a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica, encontraram provas de ondas de calor no fundo do oceano, concluindo que estas tendem a durar mais tempo e a causar um aquecimento mais significativo, e, por vezes, ocorrem com poucas mostras (ou até nenhumas) de aquecimento à superfície.
“Pode estar a acontecer sem que os gestores [das pescas] se apercebam até que os impactos comecem a aparecer”, explicou Dillon Amaya, cientista investigador do Laboratório de Ciências Físicas da NOAA e autor principal do novo artigo.
Esses impactos, perspetiva a IFL Science têm o potencial de ser catastróficos — tanto para os ecossistemas marinhos como, por consequência, para as indústrias que deles dependem. Embora os oceanos do mundo possam não ser o que nos vem à mente quando consideramos as vítimas mais afetadas pelo aquecimento global, estes absorvem cerca de 90% do excesso de calor gerado pelas emissões de carbono provocadas pelo homem.
Como tal, o aquecimento é mais rápido do que a média do planeta, aumentando a temperatura em cerca de 1,5°C ao longo do século passado — com as ondas de calor marinhas a tornarem-se cerca de 50% mais frequentes só na última década.
As perdas financeiras associadas ao fenómeno The Blob totalizaram qualquer coisa como 200 milhões de dólares segundo algumas estimativas. Como tal, não é de admirar o interesse em monitorizar as ondas de calor marinhas ao longo dos últimos anos — para além da simples preocupação ecológica — sendo esta a primeira vez que os cientistas conseguiram aprofundar tanto a questão.
Isso deve-se, em grande parte, ao facto de monitorizar as temperaturas marinhas próximas da superfície ser muito mais fácil. Não só existem métodos de análise estabelecidos e simples para a recolha de dados à superfície, como também há mais informação por onde começar: há uma riqueza de observações de alta qualidade feitas por satélites, navios e bóias.
Contudo, a monitorização do fundo do oceano é notavelmente difícil. Devido a essa falta de dados, os investigadores tiveram de utilizar uma técnica chamada “reanálise” para o estudo — um método que envolve recorrer a todos dados de observação disponíveis e utilizar modelos computacionais para classificar como “preencher os espaços em branco” onde a informação não existe.
É uma abordagem que já existe há muito tempo, mas só recentemente as técnicas e a tecnologia de reanálise se tornaram suficientemente poderosas para realizar este tipo de avaliação.
“Os investigadores têm vindo a estudar as ondas de calor marinhas na superfície do mar há mais de uma década“, apontou Amaya, “mas esta é a primeira vez que conseguimos realmente mergulhar mais fundo e avaliar como estes acontecimentos extremos se desenrolam ao longo das profundezas marinhas”.
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