Ambiente
É o El Niño que está a secar o canal do Panamá
Não há provas de que as alterações climáticas influenciaram a seca que tem afectado a circulação no canal que liga os oceanos Atlântico e Pacífico. Mas a região não é imune ao aquecimento global.
O Panamá é o quinto país mais chuvoso do mundo e, no entanto, está a viver uma das maiores secas de sempre, que está a afectar seriamente o tráfego no Canal do Panamá, causando prejuízos que podem chegar a 700 milhões de dólares este ano, porque obriga a reduzir o número e a dimensão dos navios que por ali passam – e 5% do comércio mundial internacional por via marítima faz-se por ali. É tentador atribuir as culpas ao clima em mudança, mas não há provas suficientes para dizer isso, diz um grupo de cientistas. O verdadeiro culpado é o fenómeno cíclico El Niño.
“O nosso estudo mostra claramente que o El Niño foi uma causa importante do baixo nível de pluviosidade no Panamá durante o último ano”, explicou, numa conferência de imprensa via Internet, Steven Paton, director do Programa de Monitorização Física do Instituto Smithsonian de Investigação Tropical no Panamá, um dos membros desta investigação feita pelo colectivo World Weather Attribution, um grupo de cientistas que analisa a possível influência das alterações climáticas em fenómenos climáticos extremos, como secas ou tempestades.
O El Niño é um padrão climático que começa com o aquecimento significativo da água à superfície do oceano Pacífico ao nível do Equador, o que provoca grandes alterações na meteorologia de uma vasta região do mundo. O fenómeno inverso, em que a água arrefece, é chamado La Niña – e há anos neutros, em que não se está numa situação nem noutra. Durante o ano de 2023, formou-se um El Niño – que agora começa a desvanecer-se.
“A pouca chuva que caiu no Panamá no ano passado é um exemplo único de um fenómeno meteorológico que o El Niño agravou, mas no qual as alterações climáticas não tiveram uma influência significativa”, comentou Friederike Otto, do Instituto Grantham – Alterações Climáticas e Ambiente, do Imperial College de Londres.
O estudo centrou-se na análise da bacia hidrográfica do Canal do Panamá, uma extensão de 2982 km2 de rios e lagos com barragens que convergem no lago Gatún, de onde provém a água que faz funcionar o canal. Do mesmo lago depende também cerca de 55% da população do Panamá para ter água nas torneiras.
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