Opinião

POR ARTUR MANUEL PIRES

Sur

 A Argentina é tão ao Sul, que já fica ao Norte Disse-me um amigo sobre os mares austrais, durante um jantar da Confraria Marítima. Um marinheiro habituado a navegar ao longo dos meridianos, em viagens em que quando se desce, já se está a subir.

A ideia arreigada, tipificada e canonizada, de Sul enquanto calor, experimenta na América do Sul, resultado do seu pronunciado prolongamento em latitude, o arrepio do contrário.

E por isso era de Buenos Aires, que nos chegava o melhor instrumento de interpretação do Sul.

Sur, a revista.

Fundada em 1931 por Victoria Ocampo, e contando com um corpo redatorial de onde fizeram parte, simultânea e/ou sucessivamente, José Ortega Y Gasset, Waldo Frank, Guillermo La Torre, Ernesto Ansermet, Alfonso Reys e Jorge Luis Borges, contou com colaboradores como Ernesto Sabato, Adolfo Bioy Casares (marido de Silvina Ocampo, também colaboradora da revista e irmã de Victoria), Walter Gropius, Otávio Paz, Pablo Neruda, Ramon Gomez de la Serna, Federico Garcia Lorca, Gabriela Mistral, Júlio Cortázar, Raimundo Leda, e Gabriel García Márquez, entre outros, que produziram páginas de sofisticadíssima cultura, a Sur confrontava os padrões urbanos e portenhos das margens do Rio da Prata, e os do horizonte ventoso e gelado da Patagónia, com o bulício das vanguardas estéticas europeias que chegava nos navios juntamente com os imigrantes; o bucolismo agreste dos pampas com o cosmopolitismo rufia de La Boca.

Brasil e Argentina protagonizam sem a menor dúvida as duas Américas do Sul, a portuguesa e a espanhola, separadas pela língua falada, pela cultura e pelo território.

Este último foi capitalizado pela ocupação exclusiva das duas grandes bacias hidrográficas do continente: a do rio Amazonas e a do rio da Prata.

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