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Havana viu chegar o primeiro navio dos EUA em mais de 50 anos

Carregado de comida, medicamentos ou próteses ortopédicas, o navio Ana Cecília atracou sexta-feira em Havana, vindo de Miami. Foi a primeira viagem em mais de meio século.

Amanhecia na baía de Havana quando o Ana Cecília se fez ao porto. Pela primeira vez, muitos cubanos viram chegar uma embarcação vinda dos Estados Unidos com ajuda humanitária, naquela que foi a primeira viagem de uma carreira que agora se deverá repetir todas as semanas.

A viagem marcará uma nova etapa na relação entre os dois países, deteriorada pelo embargo norte-americano a Cuba que já se prolonga desde 1962. Dentro dos contentores – a embarcação tem capacidade para 16 –, seguiram medicamentos, comida, material ortopédico ou uma cadeira de rodas. “É um grande prazer!”, disse Leonardo Sánchez, porta-voz da International Port Corp, a empresa proprietária do navio, registado na Bolívia.

A viagem sofreu um atraso de quase 24 horas, contou a AFP, mas o Ana Cecília, pintado em tons de branco, azul e vermelho, como a bandeira de Cuba, acabou por chegar. Levou encomendas de familiares de cubanos que vivem nos Estados Unidos, e agora prevê-se que a viagem se repita todas as quartas-feiras, dia em que o navio partirá de Miami para uma viagem de cerca de 16 horas.

A empresa proprietária do navio obteve uma autorização especial para esta excepção ao embargo que foi decretado pelo Presidente norte-americano John F, Kennedy em 1962 e que viria a ser reforçado já na década de 1990. A autorização foi concedida após a chegada de Barack Obama à Casa Branca, que alargou a esta ajuda humanitária as autorizações que já concedera para as viagens de estudantes universitários ou para alguns acontecimentos desportivos, religiosos ou culturais.

Vários aeroportos foram entretanto autorizados a receber voos provenientes de Cuba, e foi também autorizado o envio de dinheiro a partir dos EUA para familiares que vivam em Cuba (remessas que totalizaram 2000 milhões de dólares no ano passado). Mas este foi o primeiro envio de mercadorias.

“Aplaudo esta iniciativa, e espero que continue o caminho da normalização das relações entre Cuba e os Estados Unidos”, disse à AFP Oscar Espinosa Chepe, economista ligado à oposição ao regime de Raúl Castro. Essa relação, no entanto, viveu um novo momento de tensão em 2009 com a detenção em Cuba do norte-americano Alain Gross, acusado de ter levado ilegalmente para Havana material de comunicação via satélite.

Manolo, um pescador que assistiu à chegada do navio, contou ao El País que estava contente. “Agora sim, o meu irmão vai poder mandar-me peças para o velho Chevrolet”. Os cubanos que vivem nos Estados Unidos poderão agora enviar para Havana móveis, materiais de construção, peças para carros ou outros bens de primeira necessidade. Mas não poderão viajar eles próprios no Ana Cecília.