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Próximo objectivo da China: dominar os mares

Foi com o anúncio de toda uma série de objetivos ambiciosos que Hu Jintao proferiu uma das suas últimas intervenções como número um do regime de Pequim, ontem na sessão de abertura do XVIII Congresso do PCC, a decorrer na capital chinesa.

Hu advogou um "novo modelo de crescimento" económico, "baseado na qualidade e numa melhor capacidade de realização", defendeu a concretização de "uma sociedade de bem-estar médio", até 2020, e a criação de um setor de um "importante número de multinacionais de nível mundial".

No plano externo, o dirigente do regime chinês declarou ser necessário "tornar a China uma potência marítima", com condições para "defender sem hesitações os seus direitos e interesses marítimos". Sendo esta uma prioridade estratégica de Pequim nas últimas décadas, as declarações de Hu não deixam de remeter para o amai diferendo com o Japão sobre as ilhas Senkaku / Diaoyu.

As palavras do dirigente da República Popular da China (RPC) mereceram imediata resposta de Tóquio, com um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros nipónico a afirmar que, se a China "tem o direito e a responsabilidade de proteger os seus territórios e as suas águas", deve fazê-lo de forma pacífica e conforme ao direito internacional". Quanto ao diferendo sino-nipónico, o mesmo portavoz reiterou a posição oficial do seu Governo: "as ilhas Senkaku são parte inerente e integral do território do Japão na perspetiva da História e do direito internacional".

A RPC há mais de duas décadas que desenvolve uma estratégia de afirmação marítima, possuindo hoje no ativo dez submarinos nucleares e mais de 70 destroyers e fragatas. O seu primeiro portaaviões entrou em serviço este ano. Além de uma presença ativa no Mar do Sul da China, envolveu-se na operação de vigilância anti-pirataria ao largo da Somália e, de modo significativo, deslocou uma fragata para o Mediterrâneo, para junto da costa da Líbia, durante a crise que conduziu à queda de Kadhafi, com o sinal de apoio e proteção à comunidade chinesa naquele país.

Ainda que a sua capacidade de projeção de poder naval se possa considerar incipiente, o facto de estar a reforçar os laços navais com toda uma série de países, de Timor-Leste a Israel, revela a intenção de, a prazo, ser potência naval, ainda que média.

Em Pequim, na alocução de 90 minutos perante o congresso, apesar da referência a aspetos externas, Hu privilegiou as questões internas.

Sobre temas sociais, Hu notou que a China tornou-se a segunda economia mundial durante a década em que dirigiu o país, mas este estatuto implica também garantir "a proteção social para todos" e "serviços médicos e sanitários" para toda a população. Enunciou ainda a meta de "multiplicar por dois o PIB" e o rendimento per capita (hoje de apenas 3500 dólares/ano) entre a população urbana. Para concretizar até 2020.

Corrupção pode ser "fatal"
Num quadro que se pretende de transição institucionalizada entre a quarta geração (simbolizada por Hu e pelo primeiro-ministro Wen Jiabao) e a quinta (o novo Presidente Xi Jinping e o futuro chefe do Governo Li Keqiang), o ainda Presidente recordou que todo o edifício da sociedade chinesa pode ser posto em causa por um dado "fatal": a corrupção. Todos "devem ser iguais perante a lei", martelou Hu perante os mais de 2200 delegados reunidos até dia 14 na capital chinesa.

Finalmente, Hu sustentou a necessidade de "reforma da estrutura política" e de "ampliar a democracia popular", mas sempre de "forma prudente".

O dirigente do PCC, organização que detém o monopólio do exercício do poder na China desde 1949, mencionou aindaa"importância de melhorar o sistema democrático para se garantir que a população possa ter eleições e decisões democráticas". Mas, "nunca seguiremos um sistema político ocidental", avisou.

2012-11-09 09:16
Abel Coelho de Morais, Diário de Notícias

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