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Cultivar o fundo do mar para salvar o Planeta A química dos oceanos está diferente, anda a ciência a avisar-nos, e a pergunta ganha cada vez mais força: será que é legítimo baralhar os dados e tornar a dar, de maneira a mudar o mar e... o clima? O conceito anda na cabeça de Douglas Wallace , investigador em Oceanografia da Universidade de Dalhousie, na cidade canadiana de Halifax, há perto de 20 anos. "A ideia é fertilizar o oceano para ter mais plâncton. Já fazemos agricultura em terra; será que, no mar, conseguimos o mesmo efeito?" A cobrir mais de 70% do planeta, os oceanos são um dos principais sorvedouros de dióxido de carbono de que a Humanidade dispõe. Só que, nos últimos anos, o fitoplâncton que o converte em matéria viva está a esgotar-se. Resultado? "Há mais 50% de CO2 na água do mar do que há 200 anos", alerta aquele cientista canadiano. O plano é simples: derramar no subsolo marinho uma grande quantidade de ferro, fertilizante para muitas plantas que, no seu processo de fotossíntese, devorariam aquele dióxido de carbono. Tanto o plâncton como outros organismos marinhos extraem o CO2 da água do oceano e convertem-no em carbonato de cálcio, para construir os seus esqueletos e carapaças. A outra opção, se esse fitoplâncton morrer, é parte do carbono acabar no fundo do oceano e formar depósitos sedimentares. "Em condições naturais", avança o investigador, "esse carbono aprisionado demorará vários milhões de anos a voltar à atmosfera." Há já experiências a decorrer, no Norte da Alemanha e na costa oeste canadiana mas rodeadas de alguma polémica: o argumento, ético, é de que, no mar, as coisas não estão sempre no mesmo sítio, o que dificulta tremendamente o controlo efetivo e a avaliação dos resultados destas investigações. "Pode haver impactos desconhecidos, mas isso não nos deve paralisar", defende Wallace. "Alterações nas espécies que habitam o mar já ocorrem naturalmente: hoje, sabemos que o bacalhau tinha metros, e agora apenas possui alguns palmos."
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