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Vladimiro Fernandes, um construtor de embarcações de pesca de referência Vladimiro dos Reis Fernandes, 44 anos, é construtor de botes, em Tarrafal de Monte Trigo, Santo Antão. Começou aos 18 anos, a partir de paletes de madeira, e desde muito tempo que recebe encomendas de São Vicente, Sal e Boa Vista. Vladimiro Fernandes nasceu num ambiente onde sempre esteve ligado ao mar, primeiro em Cruzinha de Garça, Ribeira Grande, onde viveu até os 15 anos, e até hoje em Tarrafal de Monte, Porto Novo. Começou a fazer botes pequenos entre os 18 e 20 anos, e depois fez um grande para ficar a trabalhar com outro amigo. Segundo conta, é o único da família que faz este tipo de trabalhos, que aprendeu sozinho. “Nasci com esse dom. Quando eu era criança, fiz um bote pequeno só de lata. Cabia duas crianças e brincávamos com ele no mar. Comecei a fazer botes sem ver ninguém a fazer. Também, sempre gostei de desenhar”, afirma em conversa descontraída com o A NAÇÃO, no Porto Novo, enquanto construía um barco médio para um cidadão português que é um investidor naquela cidade. Quando Vladimiro foi viver em Tarrafal de Monte Trigo, encontrava paletes de madeira nas praias, desmontava-os e fazia botes. Aos 25 anos começou a fazer esse tipo de embarcação para vender e, a partir daí, já fez inúmeros botes normais para pesca. Vende os mais pequenos por 100 mil escudos. Dos médios, entre 8 e 10 metros, já fez três. “Vendi os meus primeiro barcos muito barato, ainda não tinha uma noção de preços. Vendi por 400 contos, muito barato. Depois soube que na Ponta do Sol vende-se um bote pequeno pelo preço que vendi o barquinho”, diz. A partir deste momento de reflexão, Vladimiro começou a encarar este negócio “com mais seriedade”. Passou a trabalhar por contrato, ou seja, a pessoa paga-lhe e ele compromete-se a fazer a embarcação em determinado tempo. “Agora, por exemplo, já vendo um barco médio por 800 contos. Faço um bote em uma semana, mas um barquinho leva-me um mês”, admite. Um “beldonhe” Vladimiro é o que em Santo Antão se chama “beldonhe” (alguém que é bom em fazer várias coisas). Para além de construção de embarcações, utiliza o seu engenho na carpintaria em outros ramos. Por exemplo, foi Vladimiro quem construiu o restaurante “All Blue”, situado no centro da cidade do Porto Novo, propriedade de um cidadão português de nome Richard Lema. “All Blue” é um restaurante com estrutura completamente em madeira, inaugurado a 10 de Janeiro deste ano. “Ele viu e gostou do meu trabalho e desafiou-me com este projecto. Aceitei e o resultado foi espectacular, um conceito diferente que tem tido sucesso. Por isso, recentemente, também construí um barco que vai ser utilizado por esse mesmo cliente nos desportos náuticos”. Vladimiro faz botes para São Vicente, Sal e Boa Vista. “Convidam-me para ir trabalhar noutras ilhas mas prefiro ficar aqui porque já tenho a minha vida construída”, garante. O nosso entrevistado diz que tem ferramentas eléctricas, mas, mesmo assim, prefere trabalhar manualmente. “Parece que sou dos poucos em Cabo Verde que ainda trabalha com ferramentas manuais. Desenvolvi a minha técnica porque em Tarrafal de Monte Trigo não havia luz e, por isso, tinha que trabalhar só com ferramentas manuais. Até hoje, prefiro esta técnica”, assume. Um homem do mar No entanto, Vladimiro identifica-se mais como homem do mar. Ele também é pescador. Considera que, quando se tem os próprios materiais, a pesca é mais rentável. “Se tenho os meios para pesca, que são só meus, fica mais rentável do que venda de botes. Já tem cinco anos que estou ‘pegado’ em outros trabalhos. Brevemente, vou colocar o meu barco, com motor de fundo, no mar e regressar à pesca”, revela. Contudo, Vladimiro lamenta o facto de a quantidade de peixe estar a diminuir bastante. Lembra que, quando foi para o Tarrafal de Monte Trigo, apanhava-se peixe sem problemas, mas agora, é difícil pescar, principalmente o atum. “Há um tipo de atum que já quase cinco anos que não o encontramos, que é o ‘toninha’. Isso é muito preocupante porque é aí que se situa um dos maiores bancos de pesca em Cabo Verde, o banco do Noroeste”, explica. O desemprego tem aumentado no seio dos pescadores no Tarrafal de Monte Trigo, onde apenas 23 dos 96 existentes conseguem, actualmente, ir à faina com regularidade. Em finais de Junho, os pescadores da localidade aproveitaram a presença do primeiro-ministro no Tarrafal de Monte Trigo para, precisamente, reclamar apoio do Governo na aquisição de embarcações. Pediram, ainda, a construção de “um pequeno cais de pesca”. Ulisses Correia e Silva prometeu, na ocasião, dar “uma atenção especial” à essa zona, onde, assegurou, o Governo pretende implementar “um programa integrado do desenvolvimento da pesca”, abarcando a captura, criação de infra-estruturas, crédito aos pescadores na aquisição de embarcações, conservação e transporte do pescado. O executivo, segundo ainda o chefe do Governo, vai proceder, igualmente, a estudos com vista à construção de um porto de apoio à pesca e a actividades de recreio no Tarrafal de Monte Trigo.
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