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Portugal deve apostar na economia do mar na África do Sul “Julgo que a África do Sul gostaria de ter Portugal como parceiro científico ao nível do mar. Portugal poderia começar primeiro pelo conhecimento científico para depois negociar futuros laços de comércio e de importação ou exportação de pesca”, disse o técnico português, que é também presidente da tertúlia Academia do Bacalhau, na Cidade do Cabo. Rui Santos, que falava à Lusa após um encontro entre o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e dirigentes associativos e homens de negócios na Cidade do Cabo, sublinhou que Portugal está muito avançado relativamente aos “amigos sul-africanos” e a melhor forma seria começar pelo ensino, “para educar sobre as mais-valias do mar, as suas riquezas e a conservação dos recursos marinhos”. “Aqui não há uma única escola, a não ser as escolas de formação de oficiais náuticos, como nós temos em Portugal as escolas de formação profissional para pescadores, que têm dado frutos ao nosso país porque temos agora uma geração jovem nos navios a trabalhar, coisa que não havia há 50 anos, em que aprendíamos com os avós, os tios e os vizinhos”, declarou. O dirigente associativo explicou que hoje “a pesca é uma tecnologia e a África do Sul está muito atrasada em relação isso”. “Portugal pode beneficiar muito com o ensino, é uma porta que está aberta porque os sul-africanos absorvem a nossa qualidade, honestidade e em termos de mar eles são muito recetivos a nós”, sublinhou Rui Santos. O imigrante no Cabo há mais de três décadas disse também que os portugueses ficaram “sensibilizados pela positiva e muito impressionados” com a visita do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros português, uma vez que Joanesburgo tem sido anfitriã de “tudo o que é visita diplomática”. “O ministro considerou que somos vistos pelas autoridades sul-africanas como uma comunidade muito bem integrada, que somos ‘hard-workers’, e um orgulho para Portugal que está aqui muito bem representado”, adiantou. “Para nós fica-nos apenas a grata ideia de que não fomos esquecidos”, vincou. Segundo Rui Santos, o almoço de hoje com o chefe da diplomacia portuguesa, que reuniu cerca de 60 pessoas, na residência oficial do cônsul-geral de Portugal na vila piscatória de Hout Bay, arredores da Cidade do Cabo, serviu ainda de oportunidade para “fazer sentir” ao governante as preocupações com que os portugueses se debatem no sul do país africano. “A principal preocupação da comunidade portuguesa aqui no Cabo é o futuro do país, estamos a atravessar uma crise muito sensível. Nota-se que esta ameaça de expropriação de terras pode muito bem vir a criar um conflito de interesses, uma instabilidade. Essa é uma das preocupações maiores”, afirmou. E acrescentou: “Esta crise com os cortes de corrente elétrica demonstram uma fragilidade das infraestruturas da África do Sul que até aqui não estávamos habituados, de forma alguma, e as pessoas aqui estão cada vez mais receosas em relação ao futuro”. Nesse sentido, como imigrante na África do Sul, Rui Santos instou o Governo português a encarar o assunto “de forma muito séria” e sem esperar “dividendos”. “Nós não estamos aqui obviamente à mesa de Bruxelas, isto não é a Comunidade Europeia, aqui não caem fundos para coisa nenhuma e, portanto, tem que ser um assunto tratado olhos nos olhos com as pessoas responsáveis, tanto da parte de Portugal como daqui da África do Sul, onde a voz das comunidades se faça ouvir e sobretudo tem que ser muito bem sublinhada a importância económica da nossa comunidade aqui na África do Sul”, salientou. Para o dirigente associativo, os portugueses na Cidade do Cabo “ficaram todos com pena que o ministro não pudesse estar mais tempo”, ou que regresse um dia, concluindo: “Para nós lhe mostrarmos o nosso potencial, e que temos aqui um coração para amar muito grande”.
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