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Pavilhão de Portugal «ombreia com os grandes» na exposição Rolando Borges Martins, administrador com o pelouro das operações na Expo 2020, está confiante de que a participação portuguesa será positiva. Evento arranca no Dubai em outubro, depois de ter sido adiado um ano devido à pandemia de covid-19 O administrador com o pelouro das operações na Expo 2020 e único português no 'board' considera, em entrevista à Lusa, que o Pavilhão de Portugal "ombreia com os grandes" presentes na exposição e que a participação portuguesa será positiva. "É um pavilhão que ombreia com os grandes que cá estão, a arquitetura está bem representada no pavilhão", afirma Rolando Borges Martins 'Chief Operations Officer' (COO) da Expo 2020 Dubai, com uma longa carreira ligada à exposições mundiais, desde a Expo 98, que decorreu em Lisboa. "Sobre os conteúdos [da participação portuguesa], eu pessoalmente não posso falar porque ainda não os vi e não estão ainda totalmente fechados e instalados", mas "a programação cultural não acho sequer que seja um problema porque este país - e nós temos laços culturais mais fortes do que parecem e, portanto, a música por exemplo, que é uma das áreas onde se aposta sempre mais, tem imensas coisas em comum e as práticas culturais nossas serão bem aceites aqui, seguramente", prossegue o responsável. No que respeita à dimensão económica, "isto está ancorado na AICEP [Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal], por isso não pode não correr bem", afirma. Aliás, "corre bem com certeza porque o agora comissário [Luís Castro Henriques] é isso que faz - 'that's what he does for living'" --, sublinha, apontando que "é realmente um especialista, portanto a escolha aí não podia ser mais acertada". Rolando Borges Martins começou a sua experiência nas exposições mundiais com a Expo 98, em 1993, com a Parque Expo, onde esteve cinco anos a preparar o evento de Lisboa. Depois ficou pela Parque Expo mais um tempo, foi comissário-geral representante de Portugal em Saragoça em 2008 e em Xangai em 2010. Posteriormente, foi assessor do BIE - Bureau International des Expositions, em Paris. "Em 2017 fui convidado para membro aqui do Conselho [de Administração da Expo Dubai]" enquanto não executivo durante um ano, mas o convite para vir em "'full time'" [tempo inteiro] surgiria posteriormente, na altura como 'Chief Experience Officer', conta. Desde janeiro de 2019, Rolando Borges Martins é COO. "Sou o único português a nível da equipa de gestão de topo, mas há cá mais, poucos, mas há uns três ou quatro portugueses na equipa em diversas áreas", acrescenta, desde a área de países participantes no design do 'site' do espaço, tendo agora vindo uma portuguesa da UEFA que está ajudá-lo na preparação do espetáculo de abertura. Questionado sobre se tem boas expectativas sobre a participação portuguesa, Rolando Borges Martins afirma: "Tenho todas as razões para acreditar que sim", asseverando que esta "é a última" exposição mundial que irá fazer. "A seguir a este eu regresso definitivamente para a minha reforma, que era onde eu já estava a tentar inclinar-me, mas houve este desafio e agora com mais este ano de extensão [adiamento devido à pandemia]", reitera o gestor. "Nada é tão bom como o nosso país, voltar para casa", acentua. Se as expetativas são boas sobre a presença de Portugal na Expo Dubai, o facto de o país já ter organizado uma exposição mundial eleva a fasquia: "Temos a obrigação porque também temos credenciais neste capítulo, porque já organizámos, fomos um país organizador de uma Expo que é uma Expo de referência no BIE em Paris". Aliás, "ainda hoje se fala imenso de Lisboa" nos fóruns de discussões das expo e dos participantes por duas razões. "Pela sua dimensão cultural -- a nossa Expo tinha espetáculos e de grande qualidade todos os dias -- , mas mais do que isso (...) é o pós-Expo, a dinâmica urbana que ficou associada ao recinto da Expo 98 e que, infelizmente, noutras expo não tem sido assim", aponta. A questão que se coloca é para quê este investimento todo numa exposição mundial e a aposta numa extravagância se ela não tiver continuidade, refere. "E Lisboa, felizmente, conseguiu, e muito bem, dar a volta nessa dimensão e é a Expo de referência internacional para projetos de renovação urbana associados", sublinha Rolando Borges Martins. Relativamente à Expo 2020 Dubai, esta "tem um plano de desenvolvimento urbano que é próprio desta parte do mundo, que é tudo em grande e em escala e os recursos também estão aí para as coisas acontecerem A exposição mundial conta com uma "estação de metro à porta", tem um novo aeroporto construído, "tudo isto está preparado para dar o salto também, porque é para isso que se fazem as expo: para dar saltos, para fazer um exercício de 'soft power' dos Emirados numa dimensão internacional, também agora acolhedora deste tipo de eventos, que é o primeiro que se faz nesta parte do mundo". De todas as expo em que esteve envolvido, "a mais complexa foi seguramente a primeira", a de Lisboa. "Para já, porque era a nossa, e eu tinha 30 e muitos poucos anos, e o processo de aprendizagem faz-se na primeira, depois as outras, obviamente, têm os seus modelos próprios, as suas culturas específicas, as suas idiossincrasias, mas há um conjunto de metodologias que se repetem, que aliás é por isso que acredito que as pessoas circulam de umas para as outras porque levam a experiência e os modelos e as metodologias para aplicar", refere. "A inteligência está depois em saber adaptar e incorporar o específico de cada um, se não isto era uma indústria, que não faz sentido ser", defende. Rolando Borges Martins não se dedicou unicamente às exposições mundiais: "Profissionalmente faço outras coisas, intercalei isto com a minha formação de base que é gestão de empresas e depois também tenho uma outra licenciatura em arquitetura e especialização de urbanismo". Questionado sobre como definiria uma Expo, o administrador refere que a definição é diferente para o país que organiza e para o país participante. No caso do organizar, "acho que faz sentido um país avançar para um projeto de organização, preparação de uma expo quando tem por detrás um projeto de 'soft power' que a torna de facto relevante nessa trajetória estratégica". No caso de Portugal, este fê-lo em 1998, "num momento em que depois de uma revolução e de um período conturbado" decidiu mostrar-se "à Europa como um país diferente". "Digo Europa, porque apesar de tudo foi ao mundo, mas era sobretudo num posicionamento de país europeu organizador de eventos, com capacidade empreendedora" e "o que é um facto é que o turismo em Portugal descolou naquele ano, teve 10% de crescimento face ao ano anterior", recorda. As perspetivas na altura eram de que o turismo voltaria a cair, mas "nunca mais caiu", agora se foi uma estratégia ou foi uma coincidência, "se calhar foi as duas coisas, mas de facto recolocou Portugal no mapa e contribuiu significativamente para uma perceção do país de forma diferente do que era" antes. "Internamente isso é visível, na dimensão de espaço público que gerou pelo país fora, de dinâmicas culturais que se criaram em diversas áreas, no teatro, na animação de rua", entre outros aspetos. E isto "é a relevância de uma expo para um país organizador", agora para um país participante "é obviamente uma participação mais limitada, mas tem a ver com levar o país durante seis meses a partilhar com outros o tema e as suas oportunidades de desenvolvimento". No fundo, "é um exercício de diplomacia económica e/ou cultural nas áreas todas em que o país admite que faz sentido mostrar-se como diferente dos outros, sendo parte de uma comunidade alargada" e "isso é que define uma participação: é o seu pavilhão e os seus conteúdos e a sua programação cultural e as suas atividades económicas, isto tudo com alguma visão do que é que se quer levar e mostrar", que é o que deve estar por trás de cada participação. A Expo 2020 Dubai arranca no dia 1 de outubro, no Dubai, um dos sete emirados dos Emirados Árabes Unidos.
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