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POR HENRIQUE GERMANO CARDADOR

Entre o Estreito e o Canal

A Convenção de Montreux é um tratado que permite à Turquia a gestão do Estreito de Bósforo desde 1936, de forma a assegurar a navegação livre do Estreito; ao que parece este conceito de “livre” está prestes a terminar, uma vez que até agora a Turquia não cobra qualquer tarifa ou taxa para a navegação do Estreito de Bósforo.

O Estreito de Bósforo é a uma das rotas marítimas mais movimentadas do Mundo, faz a ligação do entre o Mar de Mármara e o Mar Negro, portanto a ligação entre a Europa e a Ásia; como consequência tem uma importância geoestratégica sem paralelo para a Turquia, uma vez que gere a passagem e as ligações marítimas de países como a Bulgária, Roménia, Ucrânia, Geórgia e Rússia.

Por ano passam no Estreito cerca de 45 mil navios quando, por comparação no Canal do Panamá passam cerca de 15 mil e neste caso a pagar as devidas taxas, portanto…

A Turquia assinalou a cerimónia de início de construção de um novo canal, (no meu dia de aniversário, o que tem a sua importância) a 26-06-2021 com a construção da primeira de seis pontes (8 faixas, 900 metros) já a contar com o novo aeroporto, que se pretende ser o maior aeroporto do mundo e novos acessos.

Desde 2011 que Erdogan, o Presidente Turco, faz saber do seu desejo de construir um novo canal com 45 Km, 25m de profundidade e 270m de largura, pois estima que em 2050 passarão 78 mil navios por ano. Este canal tem como objetivo aumentar a importância geoestratégica da região, aumentar o tráfego marítimo, reduzir os riscos de acidentes sobretudo com o transporte de materiais inflamáveis e perigosos.

O canal estará pronto em 2028, terá o custo de 15B. US$ e transformará Istambul bem como o modo de vida dos 15.M de habitantes, pois a cidade passará a ser uma ilha e terão de desalojar 1.M de habitantes para fazer acontecer o canal.

Mais de 100 patentes do exército Turco apresentaram as suas reservas à construção do novo Canal, por recearem que após a sua conclusão a Convenção de Montreux seja colocada em causa.

Estes receios encontram interlocutor na vizinha Rússia, onde o Presidente Putin já fez saber da importância de respeitar a Convenção de Montreux, por várias razões, as regras da Convenção de Montreux são aplicáveis ao Estreito de Bósforo e a nenhum outro, existente ou não, pelo que, em teoria, os navios Norte Americanos podem entrar no jardim Russo (Mar Negro) sem pedir licença; em teoria a Turquia poderá apresentar taxas à passagem no Canal; a exportação de Petróleo & Gaz Natural na qual a Rússia está no TOP 3 do mundo faz-se precisamente pelo Estreito de Bósforo; e a exportação de Trigo, da qual a Rússia é o TOP 5, não pode ser travada por uma potencial “intransitabilidade” do Canal ou do Estreito.

Por estas razões, e outras tantas, o Canal pode colocar alguma tensão na estabilidade e segurança da região.

… e Istambul será a ilha no centro do mundo, em paz … ou não.

Henrique Germano Cardador, Corporate Strategy Analyst Europe & Africa

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