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Opinião | ||
Movido a água ou o regresso ao Canal do Panamá Quando consegui perceber o funcionamento do Canal do Panamá, para além de ficar fascinado, interroguei-me seriamente sobre o facto de nenhum daqueles emires do petróleo o ter comprado para oferecer a um filho mais mimado e temperamental, de tal forma se parece com um brinquedo maravilhoso, à escala de um para um. O projeto de abertura de um canal no istmo do Panamá, a ligar os Oceanos Atlântico e Pacífico, era bastante antigo, quase tanto quanto o da chegada dos espanhóis ao local em 1501, mas foi no final do século XIX, que a Sociedade francesa privada Compagnie Universelle du Canal Interocéanique de Panama, suportada por capitais próprios oriundos de quase um milhão investidores públicos, que iam de simples donas de casa (cerca de 15 000) até complexas sociedades bancárias, adquiriu o direito da abertura do canal. Na sequência, quando no primeiro dia do ano de 1880, os projetistas e empreiteiros (entre os quais os belgas da Couvreux & Hersent, que em 1887 seria o escolhido para as obras do porto de Lisboa) às ordens de Monsieur Ferdinand Lesseps, o mesmíssimo que tinha aberto com sucesso o Canal do Suez em 1869, se depararam com aquilo que teria que ser o Canal do Panamá, encontraram três coisas em abundância: rocha, mosquitos e água. Em abril de 1904, com o empreendimento por concluir, os trabalhos quase parados e os trabalhadores dizimados pela malária, na selva centro-americana, e afundado em corrupção, fraudes e escândalos nos boulevards de Paris, o projeto da abertura do Canal do Panamá, foi vendido aos Estados Unidos da América de Mr.Theodore – Teddy Roosevelt para os amigos, ou Teodorus Rex para os outros – Roosevelt, por 40 milhões de dólares, numa altura em que do projeto total previsto, estavam concluídos pouco mais do que trinta quilómetros, escavados cerca de 60 milhões de metros cúbicos de rocha, e gastos quase 290 milhões de dólares.
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