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GEO 
POR ARTUR MANUEL PIRES

Duzentos anos sem Ipanema

 Uma das melhores recordações que possuo é de estar sentado nas escadarias de um sobradão pintado de azul celeste, no Pelourinho, em plena S.Salvador da Bahia de todos os Santos, ou apenas Bahia, a três palmos de duas raparigas muito bonitas, que conversavam sobre qualquer coisa que ainda hoje não sei minimamente o que fosse.

Mas do que me recordo perfeita e maravilhosamente, é da sonoridade.

Uma perguntava em Jobim e a outra respondia em Ravel, a outra voltava a perguntar, mas agora em Villa-Lobos, e a outra respondia em Debussy, e vai por aí.

E no entanto, ambas falavam em português, ou melhor em brasileiro.

A língua portuguesa, falada e escrita no Brasil, que para simplicidade de exposição e economia de texto, vamos designar por brasileira, foi a coisa mais extraordinária que deixámos ao Brasil, a par de Ipanema, claro.

No meu caso particular, sou-lhe profundamente devedor, quando a partir dos anos sessenta, pude beneficiar da excelente oferta cultural brasileira daquele período, e usufruir ainda do maravilhoso romance dos anos trinta, ou nordestino ou realista, de Jorge Amado, José Lins do Rego, Erico Veríssimo (gaúcho), Raquel de Queiroz, Graciliano Ramos, e depois João Guimarães Rosa, e mais longinquamente de Machado de Assis, da poesia de Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes e João Cabral do Melo Neto, ou daquilo que foram os anos dourados da crônica & bossa nova, tipicamente carioca, que nos chegavam nas páginas de revistas como O Cruzeiro, Revista do Globo, ou Manchete, ou ainda para os mais atentos e privilegiados, de jornais como Jornal do Brasil, O Estado de S.Paulo ou O Globo, estes sobretudo com os excelentes cadernos culturais, alguma coisa que nem de perto nem de longe existia no panorama editorial português.

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