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Canhão encontrado na Austrália provavelmente é português

O historiador Francisco Contente Domingues, revelou à Lusa ser "muito provável" que o canhão encontrado numa praia australiana, e que vai ser analisado pelo Museu de Darwin, seja de facto português.

"Não tenho dúvidas que os navios portugueses possam ter chegado à costa Norte da Austrália no século XVI", disse o historiador, especialista na História das navegações e da expansão europeia dos séculos XV-XVII, que citou uma tese segundo a qual duas ilhas situadas a Norte daquele continente foram descobertas por portugueses.

"O que se passa é que o que movia os portugueses na altura era o comércio, e terão chegado à costa Norte da Austrália sem se aperceberem do tamanho do território. Como as populações que encontraram nada tinham para vender ou estavam interessadas em comprar o quer que fosse, os portugueses não deram importância", disse o professor de História da Marinha Portuguesa, de Náutica e Cartografia, da Faculdade de Letras de Lisboa.

"Os portugueses andaram pela Insulíndia [zona entre o Japão e o Norte da Austrália] e terão de facto aportado à Austrália e entrado em contacto com as populações", disse.

Quanto ao canhão, presumivelmente português, o historiador afirmou "que é muito natural os portugueses terem aportado, e por qualquer razão, o terem lá deixado; pode até ter caído, pode ter havido qualquer confronto".

Em janeiro de 2010, um jovem de 13 anos, Christopher, encontrou, numa praia do Norte da Austrália, aquilo que se julga ser um canhão pedreiro como os que eram utilizados nos navios portugueses do século XVI, informou esta semana a imprensa local.

Barbara, a mãe de Christopher, informou na altura o Museu de Darwin sobre a descoberta, mas só nas últimas semanas é que o artefacto foi pedido à família australiana para ser examinado, não tendo ainda sido confirmada a sua origem, apesar de a imprensa local especular que poderá pertencer aos portugueses do século XVI.

Especialistas deverão analisar a autenticidade da arma e a relação entre o local onde foi descoberta, assim como a eventual chegada dos portugueses à costa Norte da Austrália no século XVI, de acordo com a agência noticiosa australiana AAP.

Outra possibilidade é que o objeto tenha sido levado pela maré até esse lugar ou que tenha sido deixado por comerciantes do século XVI, diz o mesmo despacho da agência.

O historiador Contente Domingues afirmou que esta segunda hipótese "é muito pouco provável".

Os portugueses aportaram a Timor em 1515, mas a possibilidade de terem navegado mais de 500 quilómetros, até ao Norte da Austrália, não foi ainda academicamente provada. Todavia há muito que vários investigadores têm advogado que os portugueses tocaram o continente entre 1521 e 1524, baseados nos mapas de Dieppe que cartografaram uma ilha "Java la grande".

O contacto mais antigo que os europeus tiveram com a Austrália, historicamente provado, data de 1606 aquando da chegada do navio holandês "Duyfken", a mando de Willen Jansz. Mas só em 1770, o capitão James Cook reclamou a costa oriental da Austrália para a coroa britânica, sob o pretexto jurídico de ser "terra de ninguém".

Francisco Contente Domingues é especialista em História Marítima dos séculos XV a XVII e atualmente trabalha num projeto da Fundação de Ciência e Tecnologia, "Recursos para a História Marítima Portuguesa 1200-1700", e coordenou o volume "Navios, Marinheiros e Arte de Navegar, 1500-1668", da "História da Marinha Portuguesa".

O historiador é presidente da Comissão Internacional de História da Náutica e da Hidrografia.

NA FOTO: O jovem de 13 anos Christopher encontrou, numa praia do Norte da Austrália, aquilo que se julga ser um canhão pedreiro como os que eram utilizados nos navios portugueses do século XVI.

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