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Banco Mundial recomenda mais comércio intra-africano para fazer face à crise

O Banco Mundial alerta que os países africanos perdem milhões de dólares todos os anos devido aos obstáculos ao comércio intra-africano e recomenda que, perante a crise, o continente se foque em si mesmo, em detrimento dos mercados tradicionais.

Segundo o relatório "Desfragmentar África: Aprofundar a Integração Comercial Regional em Bens e Serviços", publicado pelo Banco Mundial, os países africanos continuam a preferir negociar com o resto do mundo do que com os vizinhos de continente.

Devido à atual crise e consequente abrandamento económico na zona euro, o crescimento de África poderá ser reduzido em 1,3 pontos percentuais este ano, estima o Banco Mundial.

"Enquanto a incerteza envolve a economia global e a estagnação deverá continuar nos tradicionais mercados europeu e norte-americano, continuam por explorar enormes oportunidades de comércio transfronteiriço de produtos alimentares e industriais e de serviços em África", escrevem os economistas do Banco Mundial.

Para os especialistas, esta situação priva o continente de novas fontes de crescimento económico, novos empregos e de uma redução da pobreza, fatores que resultaram da integração comerciais em outras regiões, como a Ásia oriental.

Apesar dos eventuais benefícios de um maior comércio intra-africano, mantêm-se as barreiras às trocas comerciais e não comerciais dentro do continente, afetando sobretudo os comerciantes mais pobres, a maioria dos quais mulheres, alerta Obiageli "Oby" Ezekwesili, vice-presidente do BM para África.

"Os líderes africanos devem atuar e trabalhar juntos para alinhar as políticas, instituições e investimentos necessários para desbloquear estas barreiras e criar um mercado regional dinâmico à escala dos mil milhões de habitantes do continente e da sua economia de cerca de dois biliões de dólares", defende o mesmo responsável.

O relatório recorda que, nos últimos anos, a maioria dos países da África Subsaariana cresceu rapidamente, muitas vezes mais do que a média mundial. No entanto, este crescimento não se traduziu numa redução da pobreza ou do desemprego. Isto mostra, conclui o relatório, que o crescimento das exportações se deveu a um pequeno número de minerais e matérias primas, com impacto limitado na economia.

O BM recomenda que África terá de diversificar as suas exportações e encorajar mais pessoas a trocar bens e serviços, nomeadamente em áreas como a contabilidade, o direito, a educação ou a saúde.

“Imaginem os benefícios de permitir que os médicos, enfermeiros, professores, engenheiros e advogados africanos pudessem exercer em qualquer país do continente. A responsabilidade de tornar isto possível recai nos países, acima de tudo", diz Marcelo Giugale, diretor do BM África para a redução da pobreza e gestão económica.

No relatório, o BM exemplifica que na África oriental há diferenças dramáticas no número de profissionais dos setores dos serviços, havendo 110 contabilistas por 100 mil habitantes nas Maurícias contra 0,2 em Moçambique e 43 advogados por 100 mil habitantes na África do Sul contra dois em Moçambique, Malaui e Tanzânia.

Inforpress/Lusa