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APLOP em foco 
POR LUÍS SOUSA

VI Congresso da APLOP - Bloco de Notas (4)

Com foco nos "Projectos em Desenvolvimento e a Logística nos Portos da CPLP”, o terceiro painel de palestrantes do VI Congresso da APLOP teve como moderadora a ex-Secretária de Estado dos Transportes do governo português, atual deputada e Diretora da Revista "Cluster do Mar", Ana Paula Vitorino.

Sublinhando a importância da conceção e do trabalho da APLOP, a moderadora considerou que esta apresenta uma consolidação que já a permite considerar um projeto de sucesso. Por esse motivo começa a possibilitar atingir estádios mais elevados de desenvolvimento de projetos comuns e de aproveitamento de oportunidades recíprocas.

Ana Paula Vitorino relevou ainda o tema proposto ao painel, onde os Portos seriam analisados a luz da sua ligação intrínseca com os sistemas de transportes e logística e a atividade económica, posicionamento que determina a sua atratividade perante o mercado.
Considerou ainda que falar de logística na lógica técnica e da sua efetiva ligação à economia, será um desafio preponderante que se coloca a APLOP, onde a língua comum constitui um motor de criação de novas oportunidades e de novas ligações e uma importante ferramenta geostratégica, decisiva em termos do desenvolvimento dos países que constituem a associação.

A primeira comunicação deste terceiro painel foi da responsabilidade de Jorge Luiz de Mello, Presidente da Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ), Brasil, subordinada ao tema "Projeto de Revitalização do Porto do Rio de Janeiro".
A Companhia Docas do Rio de Janeiro administra todos os quatro portos públicos do Estado do Rio de Janeiro: Porto do Rio, Angra, Itaguaí, e Niterói. Estes são portos com excelente proteção e baixo assoreamento, através dos quais a companhia movimenta anualmente cerca de 70 milhões de toneladas de mercadorias.

Em face do enorme crescimento que o Brasil tem verificado na movimentação de mercadorias por via marítima, o governo do país decidiu implementar uma nova política destinada a aumentar a competitividade do setor.
No caso do Porto de Itaguaí, os investimentos previstos destinam-se especialmente a diminuir o tempo de manobra de entrada e saída do Proto, que neste momento é demasiado alto tendo em conta a necessidade de prestar serviços ainda mais eficientes ao cluster económico que foi sendo desenvolvido ao longo do seu canal de navegação.

Também na área deste Porto está a ser instalada uma base militar que irá receber o primeiro submarino nuclear do Brasil, destinado a garantir capacidade de vigilância sobre a futura plataforma continental do Brasil.
O Porto do Rio, porto brasileiro onde as mercadorias de maior valor agregado são movimentadas, dispõe da vantagem de se encontrar na área urbana da cidade do Rio de Janeiro, mas por outro lado sofre de todos os constrangimentos que esta situação implica.
Tendo sido recentemente alvo de uma intervenção com o objetivo de aumentar a sua profundidade, continuará a contar com fortes investimentos públicos destinados principalmente ao reforço de cais, uma vez que se trata de uma infraestrutura com uma idade muito elevada. Este reforço permitira uma futura dragagem para fundos de 13 metros.

Estão também previstas obras que permitirão obter 2 km de cais continuo destinado à movimentação de contentores, que constituirá a maior área da américa latina para este fim e que será explorada por dois operadores privados.
Por fim Jorge de Mello referiu-se à construção do futuro terminal dedicado a navios de cruzeiro, o qual será composto por seis cais dispostos num formato de Y, dois dos quais com 350 metros de comprimento e 4 de 400 metros.

De forma a tornar mais pacífica a relação entre esta zona do Porto e a área contígua da cidade, este projeto inclui investimento na modernização da parte de terra do terminal e a revitalização da envolvente urbana que se encontrava especialmente degradada.

Marta Mapilele, Administradora da "Caminhos de Ferro de Moçambique - CFM", foi a segunda oradora do painel, com a comunicação "Projetos de Desenvolvimento e de Construção de Novos Portos e Linhas Férreas de Moçambique".

A Administradora dos CFM começou a sua apresentação referindo que os crescentes anúncios de novas descobertas de recursos minerais principalmente no centro e norte do País, cria o imperativo deste se organizar no sentido de responder aos desafios que o aproveitamento destes recursos coloca. Por este motivo os CFM têm vindo a desenvolver vários projetos que lhe permitirão cumprir cabalmente a sua missão de garantir uma logística eficaz para este fim.

Apesar de ser a África do Sul que lidera a rede ferro portuária a nível da África Austral, Moçambique poderá vir a melhorar a sua posição estratégica neste setor, face ao forte investimento no mesmo, potenciando a sua favorável posição geográfica em relação às principais rotas marítimas comerciais resultantes da logística global dos principais mercados mundiais.

Tete, província situada no Centro–Oeste de Moçambique, é o coração da nova industria de extração de carvão do pais. A área circundante à cidade de Tete detém uma das mais ricas reservas mundiais de carvão, o que implicou a construção da ligação ferroviária de Sena com 575 km entre Moatize e a Beira, destinada a garantir a logística inerente ao escoamento produto, a qual virá a ser complementada com novo terminal de carvão da Beira.

Também a nível portuário, tanto no que diz respeito ao Porto de Palma como no que concerne ao Porto de Pemba, os CFM pretende promover o desenvolvimento destas infraestruturas tendo em atenção o crescimento e redefinição da economia das regiões que estas servem.
A reclassificação das áreas portuárias, das zonas circundantes e a reserva de terrenos destinados à futura expansão das primeiras, são os principais objetivos dos projetos que estão a ser equacionados pelo Governo Moçambicano, partindo de um plano diretor com uma visão de longo prazo.

Marta Mapilele finalizou salientando a importância que atribui a uma escolha criteriosa de parceiros para a concretização dos projetos em agenda. Os objectivos traçados, estratégicos para o desenvolvimento económico e social de Moçambique, só poderão ser alcançados com base em parcerias de negocio de longo prazo, nas quais os interesses públicos e privados estejam devidamente articulados.

O último orador do painel III do congresso foi Juliano Perin, Diretor Comercial da PORTONAVE (Brasil), com o tema "A Cadeia Logística do Frio - Caso de Sucesso do Iceport, SA".
Após caracterizar resumidamente o sistema portuário brasileiro constituído por 34 portos marítimos de gestão pública e 129 terminais de uso privativo, Juliano Perin enquadrou o Estado de Santa Catarina na realidade do país.
Apesar de se situar respetivamente na posição 20ª. e 11ª. dos rankings de território e população do país, o Estado possuí o sexto maior PIB brasileiro, em função do grande desenvolvimento industrial que apresenta.

Situado na zona centro do Estado de Santa Catarina, o Terminal Portuário de Navegantes e o Complexo Portuário do Rio Itajaí movimentam cerca de 80% de todo o tráfego de mercadorias do Estado, uma vez que proporciona os equipamentos adequados às operações logísticas que o seu mercado exige. Em 2011 esse movimento chegou muito próximo dos 558.000 TEU’s, número que o posiciona no segundo lugar no que diz respeito à movimentação de contentores no Brasil, logo atrás do Porto de Santos.
A principal atividade económica do Estado de Santa Catarina está relacionada com a exportação de produtos alimentares, sector que representa cerca de 20% do seu PIB, detendo uma das maiores cotas brasileiras de produção e exportação de carne de suínos e de aves.

Por este motivo o Operador Portonave posicionou-se no mercado de transporte de carne congelada que representa cerca de 43% das exportações com origem no Complexo Portuário do Rio Itajaí-Açu, através da sua subsidiária Iceport, a qual conta atualmente com 5 anos de atividade.

Em consequência das avançadas soluções de logística que a empresa proporciona aos seus clientes, o complexo Portuário do Rio Itajaí-Açu tornou-se o maior exportador de cargas congeladas e refrigeradas do Brasil, com o custo de operação por contentor a ser reduzido em 50%, o que por si só demonstra claramente o nível de sucesso que o projeto Iceport alcançou.
Para encerramento do painel Ana Paula Vitorino referiu o elevado interesse das três comunicações, com contributos de natureza diversa.

Um conjunto alargado de projetos de modernização de infraestruturas portuárias, acessibilidades marítimas e terrestres e revitalização de áreas urbanas circundantes, que projetará para uma nova dimensão os Portos do Rio no Brasil.
A infraestruturação de Moçambique em função da descoberta de novos recursos minerais, carvão e gás natural, demonstrando que o país está em crescimento e a ser pensado com seriedade e muita fundamentação técnica, o que promove não só o seu desenvolvimento interno mas também permitirá reforçar o seu papel estratégico na África Austral.

Por fim a melhoria da competitividade da industria de produção e exportação de carne congelada no Estado Brasileiro de Santa catarina, a qual apresenta um nível grande expansão, exigindo uma eficaz logística de frio, baseada em instalações e contentores frigoríficos. As soluções preconizadas para satisfação das necessidade do escoamento dos produtos resultou no caso de sucesso da empresa Iceport, que representou ganhos substâncias a todos os agentes económicos envolvidos.

Por fim a moderadora reiterou a sua convicção de que a APLOP poderá começar a abraçar o desafio mais ambicioso de partilha de projetos que possam resultar em relações não só de partilha de conhecimento, mas também de natureza marcadamente económica, que resultem em ganhos de competitividade para os seus membros.
 

POR LUÍS SOUSA