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Cabo Verde 
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Praia aposta nas energias renováveis e no ordenamento da frente de mar

"A grande mudança aqui na Praia nestes próximos tempos vai ter de acontecer a nível da responsabilização dos munícipes", disse ao Expresso Ulisses Correia da Silva (na foto), o presidente da maior agregação do arquipélago, que alberga atualmente 137 mil pessoas, mas na qual circulam todos os dias 150 mil.

"É impossível gerir uma cidade sem contar com a colaboração proativa dos seus habitantes, por muito que persista a ideia paternalista na mentalidade dos cabo-verdianos que diz que o poder público deve fazer tudo pelos seus cidadãos", continuou.

O que falta na Praia, uma cidade espalhada em extensão e com zonas urbanizadas, mas não reguladas e de difícil acesso? "Falta uma parte física de infraestruturas, saneamento, energia, água e a inclusão dos bairros. É preciso mudar as mentalidades e levar as pessoas a fazerem a sua parte. Seja na pintura exterior das suas casas, seja na disciplina na recolha do lixo ou na regulação da venda ambulante. O pior de tudo é a pobreza desorganizada!", disse o presidente.
A maior câmara do arquipélago atlântico

Para responder a estas questões, a câmara tem desenvolvido programas a vários níveis, como a formação de 2000 vendedores ambulantes com idades compreendidas entre os 18 e os 80 anos em questões de higiene e manipulação dos alimentos. Fomentar o turismo de negócios na Praia, a promoção de iniciativas culturais bem como o reordenamento da frente marítima da Gamboa, uma zona de acolhimento dos cruzeiros que acostam na ilha de Santiago, são programas em estudo ou já em desenvolvimento.

"Nunca houve um ordenamento da frente de mar que permitisse instalar esplanadas e espaços de animação, desportos náuticos e balneares do porto da cidade até Quebra Canelas", assinalou Ulisses Correia da Silva.
Fitness e energias alternativas

A cidade conta já com 18 parques de fitness, que, segundo explica, "criaram uma dinâmica de exercício físico que faz que todos os bairros reclamem o seu". Estes são particularmente importantes em bairros que concentram populações jovens e desempregadas, diz o presidente, sublinhando que estes equipamentos representam um considerável estímulo à autoestima destas camadas da população bem como dos bairros, para os quais representam uma melhoria visível.

O investimento nas energias alternativas é outra das grandes apostas da gestão atual da câmara. Artérias centrais como a rua 5 de julho e a praça Alexandre Albuquerque já são iluminadas a energia solar, bem como o parque da cidade, mas o plano final contemplará todos os espaços públicos. A parte educativa acompanha o investimento nas infraestruturas: foi criado um centro de educação ambiental onde são demonstrados os funcionamentos das energias solar e eólica que estão a ser aplicadas na cidade.

"Assim, ficaremos livres dos apagões da Eletra", disse Ulisses Correia da Silva ironizando as falhas indesejavelmente clássicas a que a companhia de eletricidade habituou os cidadãos.
Câmara 60%, munícipes 40%

Outra característica visual infeliz da Praia é a "construção espontânea" em zonas pouco acessíveis, espalhadas e de difícil intervenção. Para contrariar a tendência, a câmara propõe a legalização das casas mediante o investimento dos seus donos em condições mínimas de habitabilidade, como sanitários e pintura do exterior das moradias, em troca da concessão de um título de propriedade.

"Vamos trabalhando com pequenas gotas num oceano, parece um trabalho de intervenção cirúrgica, mas só assim é que é possível mudar a cidade", disse Ulisses Correia da Silva, esclarecendo que muitas zonas, como a de Palmarejo, têm vindo a ser calcetadas com uma participação de 60% da CMP após os munícipes terem conseguido juntar uma participação de 40% da obra.