| OpiniãoANGOLA 
			Defender o espaço marítimo  Diz-se que os Estados marítimos foram “afortunados” pela natureza,   alegadamente pelas vantagens consideráveis associadas ao acesso ao mar e   aos recursos nele contidos. A verdade relacionada com esta percepção é, muitas vezes, directamente  proporcional aos desafios ligados à protecção que esta importante e  estratégica via de comunicação deve ter por parte dos Estados e dos  povos.O controlo efectivo sobre os mares, para garantir o seu uso  seguro, foi tema de discussão na Conferência Internacional sobre a  Segurança Marítima e Energética, que decorreu em  Luanda. O uso dos recursos marítimos também foi parte das discussões da  Conferência, que serviu basicamente para uma avaliação exaustiva das  implicações directas da segurança marítima e energética no  desenvolvimento sustentável dos Estados.
 Angola possui uma vasta  fronteira marítima e uma costa, cuja Zona Económica Exclusiva está ainda  por definir, que requer acções permanentes de fiscalização e controlo.  Isto para assegurar o usufruto dos seus recursos, sob pena de  acentuar-se a vulnerabilidade e aproveitamento por parte dos piratas e  criminosos transnacionais. O mar e os seus recursos tornaram-se numa  espécie de El Dorado para as redes de crime internacional organizado,  cujas acções criminosas incidem preferencialmente ali onde o controlo é  reduzido ou inexistente.
 Hoje, as preocupações para com a segurança  marítima e energética atingem proporções mundiais e passou a ser uma  questão vital e de sobrevivência para muitos Estados. Não é por acaso  que o evento organizado pelas autoridades angolanas, com apoio dos  Estados Unidos e da Itália, reuniu mais de 300 participantes de cerca de  30 países de África, América, Ásia, Europa e Oceânia.
 
 O  Vice-Presidente da República lembrou, durante o discurso de abertura,  que “os nossos Governos devem manter a estrutura, a função dos  ecossistemas e desenvolver acções, não só de apoio à pesquisa marinha,  mas também de capacitação dos seus recursos humanos, para incrementarmos  potencialidades susceptíveis de apoiar o uso sustentável dos oceanos”.
 
 Urge,  da parte dos Estados que possuem extensas porções marítimas, redobrar  esforços juntando-se aos outros Estados e Organizações Internacionais  para melhor controlo, defesa, acesso e usufruto dos seus recursos  marítimos. A realidade actual em que testemunhamos fenómenos como a  pirataria marítima e pesca ilegal, apenas para citar estas práticas,  insta os Estados a estudarem procedimentos consentâneos com as normas do  Direito Internacional para garantir a segurança marítima e energética. A  segurança no Golfo da Guiné deve ser em primeira instância uma tarefa  dos Estados membros desta importante zona geográfica de África e não dos  países interessados nos seus hidrocarbonetos. O défice de controlo  marítimo em África, o crescimento das redes transnacionais de tráfico de  drogas, de seres humanos, de contrabando de armas, entre outros males,  exigem uma resposta coordenada entre os Estados.
 Importantes áreas  como as telecomunicações submarinas, o turismo, a biotecnologia e outras  esferas da vida económica e social dos Estados podem ficar directa ou  indirectamente afectadas por fenómenos que se enquadram nas ameaças à  segurança marítima e energética em África.
 
 Acreditamos que os  participantes a esta Conferência Internacional sobre Segurança Marítima e  Energética souberam fazer uma correcta radiografia dos principais  problemas e soluções ao nível do uso dos mares e dos seus recursos.  Saíram, seguramente, do fórum importantes recomendações para vão  contribuir para um reforço das iniciativas nacionais e regionais  concertadas na resposta às ameaças na Costa Atlântica, em especial no  Golfo da Guiné. Basicamente, os Estados buscaram na cidade de Luanda,  com a Conferência Internacional sobre Segurança Marítima e Energética,  reforçar o conhecimento mútuo em matéria de controlo e defesa dos  recursos marítimos, bem como complementar estratégias e acções. A  adopção da “Declaração de Luanda sobre Segurança Marítima e Energética”,  produzida no final da Conferência, pode ser considerada como o passo  fundamental na materialização de acções conjuntas para a defesa dos  interesses comuns em matéria de segurança marítima e energética. Ao lado  dos esforços para alcançar a paz e segurança, pelo qual lutam ainda  alguns Estados africanos, é satisfatório ver boa parte dos Estados  africanos a evoluírem rapidamente para concertar e coordenar acções.
 
 Acreditamos  que os pontos constantes da “Declaração de Luanda sobre Segurança  Marítima e Energética” vão servir como base fundamental para futura  concertação e coordenação entre os Estados para fazer face aos desafios  comuns. Para os Estados africanos, com realce para os localizados ao  longo da Costa Atlântica, a manutenção de uma zona livre da pirataria,  das redes transnacionais de crime organizado, com segurança dos mares e  dos seus recursos em todo o Atlântico é vital. Economias de numerosos  Estados africanos dependem largamente do mar, razão pela qual defender o  espaço marítimo equivale à defesa da integridade territorial.
 
 Editorial do Jornal de Angola
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