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POR VÍTOR CALDEIRINHA

Angola, Potência Logística Regional


Angola é um país em grande desenvolvimento, com potencial militar, económico e logístico para se tornar no futuro uma grande força regional, com um papel rivalizador com a vizinha África do Sul na parte Sul de África.

A economia e a população estão em grande crescimento, em especial em Luanda, com crescimentos de cerca de 20% do Produto Interno Bruto, embora com uma recente redução pontual do crescimento devido à baixa do preço do petróleo, e com um crescimento muito elevado da população, que deve duplicar os valores do ano 2000 em pouco mais de 10 anos, ultrapassando os 20 milhões perto de 2015.

Com uma inflação que decresceu até aos 10%, estabilidade política e económica, o consumo, o rendimento e a produção tem florescido a par de movimentos de cargas exponenciais, apenas limitados pelo ritmo normal de ampliação das infra-estruturas e de maximização da sua competitividade.

A principal produção e o movimento principal com o exterior é o petróleo, em especial com os EUA e China, que domina o PIB em cerca de 60 a 70%, mas emprega uma reduzida percentagem da população, por ser capital intensiva.

Sem o petróleo, o PIB do País seria ainda reduzido como o dos países vizinhos. Mas com ele, Angola tem o potencial de empregar os seus rendimentos temporários, até que as reservas terminem, na diversificação e exponenciação dos restantes sectores económicos e infra-estruturas.

Os serviços dominam 20% do PIB e a agricultura formal apenas 10%, sendo importante a formalização dos mercados e a sua inclusão na economia pagadora de impostos.

O PIB per capita comparado como dos vizinhos é enganador devido a este aspecto do petróleo, mas ainda assim, o nível de vida em Luanda é muito superior ao dos países vizinhos, mais próximos.

O país tem três corredores terrestres principais, um a Norte para a capital da República Democrática do Congo (RCD), outro ao centro desde do Lobito, para a RDC e Zâmbia e outro a Sul para a Namíbia, a fronteira mais movimentada. É no entanto ainda um país com escassos fluxos terrestres, quando comparado com os países vizinhos em especial a África do Sul, Tanzânia e Moçambique, mas mesmo com a Zâmbia, Namíbia e RDC. Esta limitação na região em termos de fluxos terrestres é temporária, e pode ser totalmente invertida nos próximos anos com a construção das necessárias infra-estruturas, em desenvolvimento com o apoio em especial do Governo Chinês.

Os portos têm que ser largamente ampliados, pois actualmente não permitem o transhipment e a entrada de carga para trânsito terrestre para outros países por falta de capacidade e devido à elevada taxa de espera com o enorme afluxo de cargas para a procura interna. Desta forma, apesar do seu grande movimento de cargas em especial de graneis na exportação e contentores na importação, os portos angolanos não conseguiram ainda passar de feeder a portos hub.

O crescimento da procura interna é muito intenso e supera qualquer acréscimo portuário e aumento de competitividade que tem sido realizado com empenho. O novo porto de águas profundas de Dande e a expansão de Luanda e Lobito podem ser a solução para a criação de terminais que sirvam não só a economia do hinterland, mas que também funcionem com hubs marítimos e terrestres para abastecimento dos países circundantes com cargas que acrescentem valor nas zonas industriais e logísticas angolanas. Não aproveitar estas oportunidades pode levar a que os portos vizinhos na Namíbia (Walvis Bay), do Congo (Ponta Negra) e de África do Sul cubram esse papel que caberia a Angola de forma natural.

Outro importante papel logístico e industrial será a substituição de importações com a criação de zonas logísticas e industriais modernas, com facilidades na instalação de empresas, e procurando mesmo desenvolver a produção para o consumo dos países vizinhos ou o aproveitar do trânsito de matérias-primas originárias nos países vizinhos encravados, sem portos (RDC e Zâmbia), para acrescentar valor, criando emprego e desenvolvimento económico em Angola.

Outra questão importante em desenvolvimento é a relativa aos caminhos-de-ferro. O porto de Luanda apenas tem ligação ferroviária para Norte em Angola, para a região do Malange, produtora de cereais e produtos agrícolas, e tem ligação terrestre às zonas interiores dos diamantes, circulando-se principalmente por rodovia. O porto de Namibe só tem um corredor ferroviário local e o porto do Lobito tem ligação ferroviária, em processo de melhoria, às zonas de Angola produtoras de minério e à RDC e Zâmbia, zonas produtoras de minérios, em especial Cobre, bem como à Namíbia, onde os portos são concorrentes fortes dos portos angolanos para o Sul de Angola. Importa criar uma rede que ligue com facilidade os portos e as zonas industriais de Angola aos mercados dos países vizinhos, para minérios e contentores, o que está a ser feito com a ajuda dos Chineses.

 

Criadas as necessárias capacidade nos portos para transhipment e trânsito, construindo-se as linhas nos corredores até aos países vizinhos e ligando os corredores, com a inclusão de plataformas logísticas e industriais, reduzindo os custos portuários e melhorando a competitividade, os tempos de espera, facilitando também nas fronteiras a livre circulação de produtos com valor acrescentado Angolano, para acrescentar valor em Angola e ou oriundas e destinadas aos portos de Angola, poder-se-á garantir produção Angolana e competitividade para o abastecimento das populações com produtos nacionais, aproveitando a massa critica para Angola ser um hub regional que crie valor internamente, facilitando a instalação de empresas e industrias para substituir importações e exportar para os vizinhos, colocando o país no mapa do desenvolvimento logístico e económico e industrial, como grande potência logística regional.

 

 

ARTIGO DE OPINIÃO PUBLICADO ORIGINALMENTE NA REVISTA "CARGO"




Data: 2011-08-18
Autor: 4810APP

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