Quanto vale Angola em Portugal?
Um estudo recente dos investigadores Pedro Seabra e Paulo Gorjão, do South African Institute of African Affairs, reflete essa realidade. Em 2009, os serviços de emigração portugueses tinham estimado em
26 557 o número de residentes angolanos no país (não inclui os que têm dupla nacionalidade), o que representa 6% do total e o quinta maior nacionalidade. O valor sofreu uma ligeira redução face a 2008 (27 619 residentes). Em sentido contrário, segundo o Observatório Português de Emigração, o número de portugueses em Angola passou de 21 mil, em 2003, para 91 900, em 2010, ou seja, mais do que quadruplicou em apenas sete anos.
Mas a publicação britânica falava, sobretudo, das relações no mundo dos negócios. Depois de um período em que as maiores empresas portuguesas procuravam investir em Angola, agora sucede o contrário: são os angolanos que compram empresas em Portugal. Do lado português o investimento directo em Angola decaiu no último ano, devido à crise económica e ao facto de as grandes empresas já terem operações no país. Todos os grandes bancos portugueses já estão em Angola (Caixa Geral de Depósitos, Santander Totta, BPI (BFA), BES (BESA) e BCP (Millennium Angola). Também no que se refere às grandes construtoras — Mota-Engil, Teixeira Duarte, Soares da Costa, Opway e Edifer. Ou ainda a cimenteira Secil, as operadoras de telecomunicações Portugal Telecom, Zon Multimedia e Visabeira ou a petrolífera Galp.
A novidade, porém, está no crescimento do investimento angolano em Portugal que passou de uns modestos 1,6 milhões de euros (2,2 milhões de dólares) em 2002 para uns expressivos 116 milhões (159 milhões) em 2009. O artigo refere apenas os casos mais sonantes tais como o reforço da participação da Sonangol no BCP (hoje com 14,59%) e a intenção de entrada directa na Galp (a juntar à compra da ESCOM ao grupo Espírito Santo) onde também já está, de forma indirecta, a empresária Isabel dos Santos (ambos têm 15%, devido à participação de 45% na Amorim Energia que, por sua vez, possui 33,34% da Galp). A empresária angolana, por sua vez, também participa, entre outras, no BIC (que acaba de comprar a 100% o BPN — veja EXAME n.º 18), BPI (9,88%, parceria no BFA) e Zon (10%, parceria na ZAP). Existe ainda a parceria com a Portugal Telecom para a Unitel e, em breve, a entrada da Sonae em Angola.
Segundo o referido estudo de Pedro Seabra e Paulo Gorjão, o investimento angolano em Portugal já representava, no final de 2010, 2,18 mil milhões de euros (quase 3 mil milhões de dólares), ou seja, 3,8% do mercado de capitais português. O artigo da The Economist refere que a tendência parece ter vindo para ficar pois o Executivo angolano prometeu acompanhar com interesse as próximas privatizações em Portugal. “No passado eram os angolanos que trabalhavam para portugueses, agora é o contrário”, resume o advogado português Paulo Pimenta, entrevistado pela revista.
Data: 2012-01-14