LISBOA/ACCESS AFRICA FORUM
Moçambique precisa de transformar os seus recursos naturais
O desejo do Governo moçambicano é ver os abundantes recursos naturais já descobertos e em processo de pesquisa, com particular destaque para o gás natural e o carvão mineral, transformados e colocados nos centros de consumo em benefício da indústria local e das populações.
O desejo nesse sentido foi reafirmado esta quinta-feira na capital portuguesa, Lisboa, durante o segundo Fórum Access Africa, destinado a criar redes entre empresas norte-americanas e portuguesas para investir em Moçambique. O anterior teve lugar em 2010.
Trata-se de um evento organizado pelo governo norte-americano, sob o lema “Portugal-Porta de Entrada para África (Moçambique)” e que contou com a participação de empresários de Moçambique, Portugal e dos Estados Unidos da América.
O encontro de Lisboa contou igualmente com a participação do Embaixador de Moçambique em Portugal, Jacob Nyambir, do Director do Centro de Promoção de Investimento de Moçambique (CPI), Lourenço Sambo, entre outros presentes.
'Não basta ter o gás e exportar, é preciso tranformá-lo. Estamos neste momento a promover a necessidade de construir um acampamento para a transformação deste importante recurso', sublinhou Lourenço Sambo, director do CPI. Sambo foi um dos oradores no segundo Fórum Access Africa.
Na área de energia, segundo Sambo, 'é preciso transportá-la de onde ela é produzida para o Sul onde é necessária', numa referência a energia produzida pela Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB), localizada na província de Tete, no Centro-noroeste do país. Moçambique oferece igualmente um potencial de geração de energia.
'A industrialização do país está mais assente na zona Sul onde, infelizmente, não temos energia directa', disse o director do CPI.
Por seu turno, Jacob Nyambir considerou que os empresários portugueses são um veículo de atracção de investimento estrangeiro para Moçambique, em especial dos Estados Unidos da América.
O diplomata disse esperar resultados positivos da iniciativa do Fórum, salientando o efeito multiplicador do investimento na economia moçambicana.
Para Jacob Nyambir, “há muitos parceiros que nunca tinham ouvido falar de Moçambique. A vantagem desta iniciativa é ser mais uma voz que apela, que divulga o nome de Moçambique e vai disseminando a informação sobre as potencialidades e as parcerias que são necessárias”.
“Muito embora viéssemos a fazer um trabalho, a nível bilateral, entre Moçambique e América e Moçambique e Portugal, existem muitos outros parceiros que querem investir, mas não sabem onde. Com esta triangulação, esta plataforma, quem não conhece Moçambique, fica a conhecer”, disse Jacob Nyambir.
Segundo Ele, neste ambiente, Moçambique conta com os empresários portugueses para ajudarem a economia a crescer, atraindo investimento dos Estados Unidos e ajudando a fechar o fosso cultural entre o mercado moçambicano e as empresas norte-americanas.
“Muitas empresas americanas não falam português, muitas empresas americanas não conhecem Moçambique. Através da parceria entre estas empresas, os americanos vão beneficiar muito do saber fazer dos portugueses, da comunicação que têm com os moçambicanos. Moçambicanos e portugueses sentimo-nos irmãos. Se ele se casa com um português, casa-se logo com um moçambicano”, referiu.
O embaixador falou igualmente da importância de Moçambique no contexto da sua estratégica localização, destacando que 'investir em Moçambique é investir na África Austral, na Swazilândia, na África do Sul, Botswana, Zimbabwe, Malawi, porque esses países passam as suas mercadorias através dos portos moçambicanos”.
Falando na sessão de abertura do Fórum, o Secretário de Estado da Economia e Desenvolvimento Regional português, António Almeida Henriques, reafirmou que, para Portugal, Moçambique é um dos países prioritários no apoio à internacionalização da economia, destacando o papel português na triangulação entre Europa, África e América.
“Colocámos Moçambique no topo da nossa agenda de apoio à internacionalização económica nacional. Estou certo que Moçambique e os nossos parceiros comuns, como o Estados Unidos da América, não deixarão de corresponder”, sublinhou António Almeida Henriques.
Para Henriques, “Portugal ocupa uma posição geoestratégica ímpar nas relações entre a Europa, a América e África, que o governo português deseja potenciar e valorizar nas relações de cooperação e diplomacia económica, política e cultural”, disse .
Na ocasião, o embaixador norte-americano em Portugal, Allan Katz, considerou que as empresas portuguesas poderão encontrar capitais para investir no mercado moçambicano.
“Esperamos que os encontros de hoje, em busca de oportunidades, ajudem a avançar. Há também várias agências governamentais dos Estados Unidos, de Portugal e de África que podem trabalhar em conjunto para financiar projectos que, esperamos, possam conduzir a maiores oportunidades de negócios”, disse o diplomata norte-americano.
Allan Katz disse ainda esperar que o fórum dê origem a pelo menos 17 projectos de cooperação empresarial, número igual ao do evento de 2010.
Moçambique espera receber, nos próximos anos, investimentos no valor de 90 mil milhões de dólares EUA para projectos nos sectores energético e mineiro, cerca de sete vezes o valor actual da economia do país, de acordo com a ‘Economist Intelligence Unit’ (EIU), citado pela agência noticiosa “Macauhub”.
No seu mais recente relatório sobre Moçambique, a EIU afirma que o país “está nas fases iniciais de uma expansão sustentável do investimento directo estrangeiro, em resultado do seu potencial energético e mineiro”.
“O investimento em curso ou proposto inclui projectos mineiros, caminhos-de-ferro, portos e outras infra-estruturas, bem como geração de energia hidroeléctrica e térmica”, refere a EIU.
O valor do investimento previsto inclui projectos em curso ou nas fases iniciais e é mais de sete vezes o PIB actual do país (12,4 mil milhões de dólares americanos).
Perto de 21 mil milhões de dólares destinam-se à geração de energia e 68 mil milhões ao desenvolvimento de gás natural na província de Cabo Delgado, no Norte do país, incluindo 18 mil milhões de dólares da norte-americana Anadarko Petroleum e 50 mil milhões da italiana ENI.
“O montante de investimento é enorme para Moçambique ou para qualquer outra economia”, adianta o relatório.
Embora alguns dos projectos não tenham ainda um calendário preciso, espera-se que a maioria avance nos próximos dez anos.
Para a EIU, Moçambique “parece estar no limiar de uma expansão do sector energético que promete tornar o país num significativo produtor africano de energia”.
Mais recentemente, a ENI ampliou as suas estimativas de capacidade dos seus blocos de gás na bacia do Rovuma de dez biliões de pés cúbicos, para 40 biliões.
“As reservas de gás totais na área podem ser até maiores, pois a ENI planeia perfurar mais quatro poços até final do ano”, adianta a EIU.
Com expectativas de início da produção de gás natural no mar para depois de 2018, o governo moçambicano planeia ainda lançar mais uma ronda de licenças de exploração de blocos na bacia do Rovuma, desta vez na zona Sul.
Paralelamente, as autoridades anunciaram um plano para aumentar a participação máxima que o Estado, através da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH), detém em futuros blocos petrolíferos, dos actuais 25 por cento para 40 por cento.
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Data: 2012-06-02
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